quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Reality Show – Teatro para hipócritas


Reality Show. Para quem não sabe o que é (o que eu acho difícil, já que a TV brasileira tem dado muita ênfase neste tipo de programa ultimamente), de uma olhada neste link e antes de prosseguir: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reality_show

Antes de qualquer coisa, devo ressaltar que alguns formatos de Reality Show são sim interessantes ou no mínimo razoáveis, desde que o objetivo do programa seja a evidenciação de um talento ou a busca pela superação de limites pessoais. Neste texto, falarei sobre aqueles programas em que o objetivo é simplesmente mostrar o comportamento de seus participantes – com algumas “tarefas” eventuais, mas que não são o foco de atuação.
            O comportamento humano é muito complexo, a psicologia já afirma isso com muita propriedade. Então, podemos supor que um ser humano é um objeto de estudo que age seguindo uma quantidade incontável de parâmetros. Embora os atos de falar e gesticular sejam bons meios de expressão, não há nada que possa exibir com real precisão o que se passa na mente de uma pessoa. Os sentimentos são confusos, não se pode determinar com toda a certeza a reação que cada ação provoca. Por que eu estou dizendo isso? Porque o que vou discutir agora é simplesmente a mania que algumas pessoas tem de atuarem como exímios psicanalistas.
            Programas como Big Brother e similares possuem um mecanismo até fácil de entender: os participantes entram no ambiente de confinamento, se conhecem, agem como novos grandes amigos, passam por algumas provas, criam grupos de interesse, atacam-se simultaneamente e, ao fim, alguns deles saem com bonificações interessantes, sendo que um sempre recebe um prêmio maior. Bem, o que mais chama a atenção dos espectadores não é este processo todo, mas sim um parâmetro particular: o comportamento dos participantes dentro do programa. Os espectadores tendem a criar laços de afeição com os participantes que, por senso comum, são desfavorecidos e perseguidos dentro do próprio programa. Analogamente, passam a ter repulsa pelos participantes que se mostram como estrategistas, e que deixam claro desde o início o desejo pelo prêmio maior. Ao que me consta, todo e qualquer tipo de atitude dentro do ambiente de confinamento é permitido, desde que estes não sejam claramente adversos à Constituição Brasileira, como agressões físicas, por exemplo. Resumindo: tudo o que os participantes fazem dentro do programa É PERMITIDO pelas regras do mesmo, pois caso contrário, são expulsos.
            É aí que entram os pseudo - psicanalistas. Criou-se o costume, entre os espectadores do programa, de julgar os participantes por suas atitudes dentro do jogo. Combinar voto é errado, criar “panelinhas” é errado, ser calado é errado, ser sincero é errado, e que tudo isso configura em jogar sujo. Pergunto-me: jogo sujo por quê? Eles estão dentro das regras propostas pelo programa. Um jogador de futebol se sente humilhado ao receber um drible bonito, mas nada pode dizer, pois isto faz parte do jogo, e o mesmo acontece nos reality shows. As pessoas do lado de fora passam e determinar o que é certo e o que é errado, criando suas próprias regras para um jogo cujas regras já foram definidas.
            Alguns desses espectadores argumentam alegando que “é nessas situações que as pessoas mostram o que realmente são”. NÃO!!! Elas, neste momento, são jogadoras e estão jogando conforme as regras. As verdadeiras pessoas que elas representam ficam do lado de fora. Me lembro que, em uma das edições do Big Brother Brasil, o “vilão” da casa era um médico. As pessoas na rua demonstravam ódio por ele sem conhecê-lo, mas na cabecinha pequena delas, o Big Brother revelou tudo o que elas precisavam saber sobre ele. Uma vez uma das participantes passou mal dentro da casa e ele foi o primeiro a socorrer. Assisti posteriormente uma reportagem mostrando sua atuação profissional, como seus pacientes (em geral, pessoas idosas) o adoravam e até atribuíam a ele o sucesso de suas recuperações. E agora, o que me dizem os espectadores que o criticavam? Podem afirmar com tanta certeza que ele era um homem ruim, desprezível e merecedor dos piores chingamentos possíveis? Então me digam: e quanto aos vencedores? O que fizeram de bom? Compraram apartamentos, carros, torraram o prêmio como bem entenderam, tudo isso alicerçado sobre a ignorância e a hipocrisia daqueles que se achavam sabedores da verdade e experts em comportamento humano pois julgaram que este era merecedor do prêmio, que este era o portador das mais belas virtudes. Sim, com raríssimas exceções (lembro-me que uma das ganhadoras chegou a construir uma escola pública com o dinheiro). Mas em geral, são pessoas comuns, com tantas qualidades quanto qualquer outro participante, mas que por encaixarem-se provisoriamente em um perfil dito “perfeito” pelo público, ganharam o status de vencedor.
            O problema não está em assistir esses programas. Pessoas diferentes tem métodos diferentes de diversão, e se sua mente sente prazer com isso, não adianta fugir. O fato que transforma o público destes reality shows em piada é que eles, em sua maioria, transformam-se em “réguas” que insistem em medir a magnitude e a natureza das atitudes e da personalidade de outras pessoas, tendo como base uma amostra insignificante e medíocre de suas vidas – o Reality Show.

4 comentários:

  1. Oi Marcos Rogério, como vai??? coloquei o link do seu blog lá no meu, ok??? Sem problemas??? Um abraço!

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  2. De modo algum!! Aliás, eu é que agradeço!!
    Abraços!!

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  3. Show, Barcão! Gostei muito! É filosófico! Verdade, eu já tinha pensado nisso mesmo... conversamos sobre isso depois, ok? Beijinho!

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  4. Maninho disse tudo!Os espectadores se acham no direito de julgar quem é o bonzinho e o mau do reality.Julgar como?A partir de qual argumento eles definem quem é bom e quem é mau?Aí me pergunto: seria tão bom se esses mesmos espectadores que votam com tanta convicção pra fulano ou ciclano sair,votar tb nos nossos políticos aqui fora.É muito fácil querer participar de uma realidade de "mentirinha" e deixar de lado realidade no qual somos realmente responsáveis por decidir.

    Amei seu texto.Disse tudo!
    Bjs

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