quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Da crueldade à coragem



Nesta semana, a cidade de Pouso Alegre no sul de Minas Gerais (coincidentemente, a cidade onde moro) foi abalada por uma notícia totalmente desagradável.
A notícia pode ser acessada por esses links:



Gente... o que é isso?

Isso não é novo não... estou dando exemplo deste caso por ser pertinho de mim, por ser na minha terra... mas acontecem muitos outros desse todos os dias. E me pergunto: O que faz um homem agir desse jeito?

Primeiramente, isso não é um homem. É um conjunto de ossos, carne e sangue que me deixa em dúvida se possui alma. Um coração que só serve para suprir as necessidades circulatórias do corpo, mas incapaz de sentir compaixão. Aliás, como dizem que na verdade sentimos com a cabeça e não com o coração, isso leva a crer que também não possui cérebro. Seria uma ofensa a todos os seres vivos possuidores de encéfalo, chamar aquela porção de massa cinzenta de cérebro.
Eu não consigo entender o que leva um pai a fazer isso com o próprio filho, além do fato de ser um bundão covarde e que só é homem no RG, de resto é um nada. Mas eu imagino que, o dia em que me tornar pai, será o dia mais feliz da minha vida... e minha vida toda será mais feliz depois disso. Eu sei, virão muitas fraldas a trocar, noites mal dormidas, choros e birras... mas creio que tudo isso seja na verdade parte da maravilhosa experiência que é ser pai. Fico me imaginando, segurando uma criança e esperando ansiosamente o dia em que ela dirá: “papá”... e é por imaginar isso com tanta amplitude que não sobra espaço na minha cabeça para imaginar que tipos de pensamentos ou sentimentos levam um ser humano a agredir uma criança.
Se olharmos para nosso passado, nas épocas em que nossos pais ou avós eram crianças, lembraremos que, nesse período, era comum os pais baterem nos filhos. Eu não concordo de forma alguma com esse tipo de atitude, mas compreendo que era uma forma de repreender os filhos por falhas cometidas. Mas não se via nessas práticas o intuito de traumatizar ou humilhar as crianças. Era um método que acredito ser totalmente ultrapassado, mas que por questões culturais, era tido como o correto. Mas e hoje?
Hoje já sabemos que agressões físicas só servem para causar revolta e traumas. Claro, não sou totalmente contra à “palmadinha”, da qual alguns pais lançam mão ainda hoje, embora prefira não adotá-la. Mas qualquer forma de repreensão física, se ainda existir, deve ter como único objetivo alertar a criança no momento da “infração”. Bater para punir não leva a nada, apenas faz com que a criança associe o ato de SER PEGO fazendo algo errado como um deslize, e não o FAZER algo errado em si. A criança apenas tomará mais cuidado da próxima vez, para não ser vista fazendo o que faz. Mas se você quer fazê-la entender que “o erro está no erro”, nada como uma boa conversa, nada como fazer seu filho sentir que, apesar de sua posição como pai ou mãe também acarrete na ato de advertir, ele não precisa temer a agressão das pessoas que ele mais ama e confia.
Agora, nem mesmo os pais mais conservadores concordariam com essa atitude que agora parece tomar repercussão nacional. Bebês ainda nem desenvolveram a consciência e o conceito de “certo ou errado”. Aliás, esse caso não foi punição, pois não houve erro cometido por parte da pobre criança. Esse caso foi a incapacidade de um pseudo-homem de entender a beleza e a magnitude de se cuidar de uma criança. Apenas alguém que esqueceu sua hombridade em alguma esquina e fez o que fez. O que ele merece? Bem, se eu fosse escrever aqui o que acho que ele merece, menores de 18 anos deveriam parar de ler o texto por aqui. Mas resumindo, ele deve ser isolado, privado do convívio social, e de alguma forma, deve retornar à sociedade algo de bom, para no mínimo, TENTAR compensar o que fez. Mas isso não o redime, apenas o deixa quitado em questões de ordem prática. No âmbito social e sentimental, sua exclusão Será perpétua.
Eu gostaria de finalizar esse post dando meus parabéns à mãe da criança. Me arrepia só de imaginar a sensação dela ao ver o vídeo. Eu que vi apenas trechos “amenizados” da cena, já senti coisas inexplicáveis, imagine ela. Mas ela soube se controlar, e tomar a decisão correta ao procurar a polícia. Através de um plano simples mas engenhoso, ela consegui poupar seu filho de sofrimentos maiores. E que sirva de lição para todas as mães desse Brasil, pois apesar da grande divulgação na mídia, esse caso não é único. Existem muitos iguais e até piores, e muitas mãe sabem mas tem medo de procurar ajuda. Não tenham medo. Aliás, preocupem-se mais com seus filhos do que com seus casamentos, pois seus maridos podem não serem sempre seus maridos, mas seus filhos serão sempre seus filhos.

“Nessa selva
A gente se acostuma a muito pouco
A gente fica achando que é o normal
Finge que não vê,diz que não foi nada e leva mais porrada”

(No meio de Tudo Você – Engenheiros do Havaí)

Pensem nisto.
            Até mais.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A (inútil) disputa pós-eleitoral




É sério isso? Não, na boa mesmo, é difícil acreditar que tenha gente se vangloriando por que determinado candidato ganhou, ou se emburrando por que o outro perdeu. Tem gente aqui que parece ter um orgasmo quando "seu candidato" ganha. E daí? Isso de forma alguma torna vocês pessoas melhores. Ficar tirando sarro de pessoas que votaram no "perdedor" é uma atitude absurdamente ridícula e merecedora de repulsa. Muita gente aqui parece mais preocupada com sua auto-afirmação do que com o futuro do país.

Creio eu que esta eleição foi levada por "modinhas", pros dois lados. Muita gente que votou, independente do candidato, fez isso porque gostou da propaganda política. Sabe o que isso significa? Que muitos brasileiros ainda acham que não há deturpação na informação. Ambas as campanhas continham informações absolutamente maquiadas, ou melhor, não necessariamente mentiras, porém manipuladas de forma a obter visibilidade além da merecida.

Sabe o que me espanta mais? Pergunte aos eleitores do Serra quais foram os últimos cargos políticos desempenhados por ele, como ele entrou na política e qual é sua formação profissional. Façam a mesma pergunta aos eleitores da Dilma. Em ambos os casos, ficarão espantados ao constatar que pouquíssima gente saberia responder a essa pergunta.

Agora que a eleição já foi, é hora de parar com essa criancice de "meu carrinho é maior que o seu" e torcer para que a candidata eleita faça um bom governo, independente de ter votado nela ou não. Porque pessoas que "pisam" nos eleitores do adversário, e pessoas que ficam agourando o candidato eleito para fazer cagadas, para mim são farinha do mesmo saco. ACORDA GENTE! Se gastássemos essa energia que gastamos nessas discussões ferrenhas para um bom propósito, vocês veriam am que pé estaria esse país.

É isso. Deixem de lado essa richa partidária besta, e vamos trabalhar juntos para melhorar nossa realidade, deixando o orgulho de lado e lutando pela mesma causa.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Amizade...???

A quem podemos de fato chamar de amigos?

Na verdade, as pessoas classificam suas amizades de formas bem distintas umas das outras. Algumas dizem ter centenas de amigos, enquanto outras afirmam que não possuem amigo algum em quem possam confiar. Sendo assim, vou dizer aqui o MEU ponto de vista sobre o que é ser amigo.
A amizade é uma das características interpessoais baseada fortemente no amor. Em geral, temos pelos nossos amigos o mesmo tipo de amor, de forma que apenas a intensidade varia. Mas também podemos destacar que a amizade é característica na qual se fundamente um campo de outros parâmetros interpessoais, como confiança, camaradagem e cooperação. Portanto, o amor puramente não caracteriza a amizade, embora seja o fator primordial. A amizade também pode ser descrita por esses e outros fatores. E pode acreditar, é difícil encontrar alguém que apresente altos valores em todos os fatores.
Bem, sendo assim darei minha sugestão para identificar seus amigos de verdade. Quando digo de verdade, não estou querendo dizer que as outras amizades são de mentira, mas apenas que talvez não sejam amigos para qualquer instante.
            Primeiramente, pense em todos os seus amigos. Tente pensar em todos eles ao mesmo tempo, como se estivessem em uma sala. Note que, como qualquer pensamento, as formas ficarão um pouco distorcidas. Tente dar mais nitidez a essas imagens, o máximo que conseguir.
            Certamente você não conseguiu melhorar esta nitidez para todos. Provavelmente se dedicou a determinadas pessoas quando percebeu isso. Estas podem ser talvez as mais importantes para você neste momento. Mas é importante ressaltar que as pessoas mais “nítidas” variam de acordo com o momento de sua vida. Então, não creio que sejam eles os seus maiores amigos. Creio que aqueles que sempre estão em seu pensamento, nítidos ou não, é que são. Isso porque a presença destes em seus pensamentos é intrínseca, e você os interpreta como algo que “sempre está lá”, portanto não há necessidade de dar a eles mais nitidez, pois você já tem a certeza de suas importâncias, dispensando assim qualquer tipo de tratamento mais sofisticado em suas imagens.
Confuso isso? Deixe-me exemplificar.
            Você está em um bar com amigos, e alguém lhe apresenta uma amiga (ou amigo) que você ainda não conhecia. Você simpatiza com ela, e por algum motivo, por dias seguidos, passa a alimentar esta simpatia de um modo diferente. Você passa a fazer questão da presença desta pessoa nos bares que freqüenta, passa a querer sempre conversar com ela. Talvez, até se “apaixone” por ela. Ela toma quase todo seu pensamento, em quase todos os seus dias. Sempre que acordar, pensará nela. Sempre que for fazer algo, desejará que ela esteja junto. Muitas vezes pensará: “é a pessoa mais importante de minha vida, é a razão de minha vida”. Bem, ilusões acontecem.
            Então, faça um teste simples: imagine novamente todas as pessoas importantes para você. Imagine agora que esta sua “razão de viver” suma de sua vida. Provavelmente, você sentirá uma angústia profunda, um sentimento de quem perdeu parte de seu coração. Imagine então sua vida, sem essa pessoa, anos atrás e daqui alguns anos. Pense em como era sua vida sem ela, e como será sua vida sem ela, após a ter conhecido. Então, imagine agora que você foi dormir. No dia seguinte, acorda quando ainda era bem criança, como se tivesse voltado ao passado – antes de conhecer todas as pessoas importantes da sua vida. Mas sua memória é a mesma. O que você faria? Você ficaria confuso sim, mas tentaria viver exatamente como antes? Obviamente, não conseguiria. Então, passaria a ter medo, pois vivendo diferente, talvez não consiga se aproximar de seus amigos, que a essa altura, nem sabem quem você é. É um sentimento agonizante, é como se todas as pessoas ao seu redor tivessem perdido a memória. Então você entra em parafuso. Seu dia corre de forma extremamente confusa, você dorme. Alguns dias passam e seu desespero aumenta. Você quer sua vida de volta. Você quer aquelas pessoas de volta.
            Sabe o que é curioso? Lembra daquela pessoa que era a sua “razão de viver”, o motivo de sua felicidade? Garanto que você nem pensou nela, ou pensou muito pouco. Você nem sequer perderia seu tempo tentando reconquistá-la, pois mesmo que seja dolorido imaginar sua vida sem ela, existem outras pessoas sem as quais sua vida se tornaria irreconhecível. Pessoas sem as quais você simplesmente não saberia se definir, pois elas são seu referencial. ESSAS pessoas são seus verdadeiros amigos. ESSAS pessoas é que caracterizam a sua vida. Elas não são sua razão de viver – elas são pedaços de sua vida, que não passa de um gigantesco quebra cabeça, com umas peças maiores que as outras. Algumas peças são aquelas do canto, que deixam um buraquinho, mas que você concerta com algumas gambiarras, fazendo uma peça nova. Mas algumas peças são tão grandes que, sem elas, o desenho do quebra cabeças fica irreconhecível, e você nem ao menos terá ânimos para continuar montando.

Então meus companheiros, cuidado ao determinarem com tanta certeza as pessoas (ou A pessoa) que julga ser a fonte de sua felicidade. Pode ser que você esteja dando atenção demais a peças bonitas e chamativas, mas que são apenas peças de canto, fáceis de trocar.

PS – Este texto não estava “nos meus planos”. Mas neste domingo que se passou, tive uma longa e maravilhosa conversa com uma grande “peça” de meu quebra cabeças, e esta reflexão me veio fortemente à cabeça. Carol, obrigado por me escutar, e por me dar inspiração para este texto. E obrigado à todas as peças realmente importantes de minha vida, pois nenhuma “razão de viver” que apareça em minha caminhada, será maior que vocês.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A realidade do deficiente físico




Antes de começar, quero deixar claro que este texto não tem fins políticos, até porque creio que teria acontecido a mesma coisa, qualquer que fosse o político envolvido, de qualquer partido.

            Neste domingo, dia 17, tivemos em minha cidade (Pouso Alegre) no sul de Minas, um evento muito bacana – uma corrida rústica para portadores de necessidades especiais. Juntamente com alguns escoteiros de meu grupo, fui escalado à ajudar no evento, distribuindo água, fazendo balizamento de percurso ou o que fosse preciso ajudar. Pois bem, pouco antes do início do evento, ficamos sabendo que o governador do estado estava chegando à cidade, e assistiria à uma missa na Catedral de Pouso Alegre. O detalhe é que este evento para os deficientes físicos estava acontecendo justamente na praça em frente à catedral.

            Enquanto os participantes, parentes, amigos e colaboradores da corrida se organizavam, podíamos notar, atrás do palanque do evento, a movimentação na igreja. Um tapete vermelho foi colocado à porta da igreja (diga-se de passagem, não há nada mais ridículo do que o tal do tapete vermelho) e percebia-se a chegada de várias pessoas com traje de última linha. A alta sociedade da cidade comparecia em peso. Não para assistir à corrida, mas para assistir à missa na qual o governador estaria presente.

            Bem, só Deus sabe a dificuldade que foi para realizar aquele evento. As pessoas passavam por nós e encaravam tudo com olhar de quem nega esmola a um mendigo. Uma secretária de Cultura de uma cidadezinha próxima até veio falar algo com a gente, mas a preocupação dela era com a abertura da rua para que  governador chegasse, já que estava interditado para a corrida. Neste momento, o Mariano, que é um grande entusiasta do atletismo e estava ajudando no evento, sutilmente disse: “Mas o governador não se importará de caminhar um pouco, não é? É por uma boa causa. Sabe quando você aplaude com o coração? Foi exatamente o que fiz.

            Mesmo com as dificuldades, a corrida transcorreu bem, e preparávamos para a entrega de medalhas e troféus. Ao fim da missa, foi que a minha indignação foi maior. O governador saiu pela saída lateral rumo ao carro, até aí tudo bem. Mas ver DEZENAS de pessoas saírem da praça para verem o governador passar, foi a gota d’água. Pessoas que realmente mereciam público estavam ali, recebendo suas medalhas ao som de meia dúzia de pares de mão em ovação. Minha indignação foi tamanha que batia palmas cada vez mais fortes.

            Então, o que quero deixar claro é que minha crítica não é política, pelo contrário. Estou criticando as próprias pessoas, que se preocupam mais em lamber o saco de pessoas que julgam serem mais “importantes”, deixando de lado pessoas que realmente estão precisando de carinho, de atenção. Me deixa em cólera ouvir madames pregando a paz mundial, a igualdade, o apoio aos mais necessitados... enquanto torcem o nariz para estes. Pessoas que dão lição de moral nas colunas sociais (idiotice 2) sem um pingo de moral verdadeira para dar exemplo.

Este é nosso mundo. Cada vez mais, me convenço de que não é a política que estraga nossa vida. A má política é apenas um aspecto da má conduta humana. Tive o prazer de estudar, me formar e tornar-me amigo de um deficiente físico, a quem aprendi a ver com os mesmos olhos que vejo qualquer um. Deficiência física não é inferioridade, pelo contrário – pode mostrar que as pessoas não precisam de tudo para serem felizes, e que a superação não está no corpo e sim no coração. Mas enquanto as pessoas acharem que deficiência é digna de pena... digo que dignas de pena serão elas. Eles merecem sim admiração, mas acima de tudo, RESPEITO. E falta isso em muita gente que se diz “normal”.

Pensem nisso.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A confiança é um vaso que se quebra...

“A confiança é um vaso que se quebra”. Muitas vezes as pessoas não entendem o significado desta expressão. Usam-na para referirem-se a traições, desacordos, falta de compromisso e diversas coisas relacionadas. O que ela realmente quer dizer, bem, vamos analisar.
Primeiro é preciso ter noção de uma coisa: o amor é a benção e a maldição do homem. Amar só traz felicidade quando este amor segue um fluxo de ida e volta em duas vias. Amor não tem absolutamente NADA a ver com merecimento. Pessoas que merecem todo o amor do mundo são muitas vezes desprezadas, e pessoas que não merecem o ar que respiram, muitas vezes atraem para si mais amor do que merecem. Então, não se iluda achando que  o amor é o mais belo dos sentimentos. É uma pedra preciosa, porém bruta e rudimentar, que precisa ser lapidada com vigor. Mas é uma pedra distribuída pelo solo de forma não homogênea, não segue padrão nenhum. É por isso que, por mais que se cavem buracos e mais buracos, você pode não encontrar nada, pois seu solo nada tem. Mesmo merecendo, você pode passar a vida inteira “garimpando” sem sucesso, sendo obrigado a ver pessoas à sua volta esbanjarem-se com esta preciosa pedra, sem ao menos esforçarem-se. Este amor não se refere apenas ao amor “homem-mulher”. Ele pode se representar em amor fraternal, em compaixão e qualquer outra forma de afeto por outros.
Existe o falso amor. Ao contrário do que se pensa, o falso amor não engana ninguém mais do que engana a própria pessoa que o cria. Achar que seu coração está cheio de amor, quando na verdade está seguindo instintos humanos que a nossa evolução mental e cultura já ensinaram a controlar. A ganância por mais e mais, o desejo pelo prazer a todo custo, por mais breve que seja. O desprezo pela própria existência e a existência daqueles que realmente amam. Não é que se deva viver como os outros determinam, afinal cada um tem seu livre arbítrio. Mas ignorar os conselhos e advertências que os verdadeiros “amadores” e a própria vida lhe dão, pode tornar o livre arbítrio não em um direito humano, mas sim em um objeto de soberba perante aos que apenas querem induzir-te a caminhos não tão fáceis ou prazerosos,  mas talvez os únicos que de fato lhe levarão até o fim.
O perdão é uma virtude, mas não se enganem, pois ele não é automático e quase nunca é espontâneo. O verdadeiro perdão não é declarado, e abraços, beijos e palavras de redenção nem sempre mostram a verdadeira forma do sentimento que se esconde por trás da mágoa. O perdão pode significar uma segunda chance, terceira, ou qual seja. Mas isso para quem é perdoado. E quem perdoa? Terá uma segunda chance de ter de volta o antigo sentimento? O coração dela será o mesmo, todas as feridas se curam? O mesmo alívio daquele que é perdoado é sentido por quem perdoa?
Enfim, entendemos então o sentido da frase sobre o vaso. Um vaso é construído com cautela, passa por diversos processos até chegar à nossa mesa. Se alguém o quebra, pode usar fitas, cola ou qualquer outro artifício para consertá-lo. E de fato, as flores poderão voltar a crescer ali dentro, tão belas quanto antes. Mas as rachaduras do vaso jamais sumirão. Sempre que o olhar, embora admire as flores, não conseguirá desviar o olhar dos trincos e rachaduras que mostram que aquilo já se quebrou – e por mais reparos que se faça, não será como antes. “A confiança é um vaso que se quebra”. A vida se encarregou de me fazer entender o que isto significa, e espero que todos entendam e passem a tomar mais cuidado com seus vasos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Escola - a primeira impressão

Estudar. Esta palavra define uma gama de objetivos humanos, em diversos aspectos. Toda análise que se faz de algo, mesmo que simples, pode ser chamada de estudo. Digamos que é uma espécie de “instinto cultural” sem o qual não sobrevivemos, ou o fazemos com certa dificuldade. Mas a palavra estudar é usualmente empregada no sentido escolar. Na sociedade atual, qualquer país  razoavelmente avançado busca (ou pelo menos deveria buscar) fornecer educação aos cidadãos desde sua infância. Não a educação familiar, parametrizada por bons costumes e conduta, mas sim uma educação formal, uma transmissão de informações necessárias para uma formação básica e profissional do indivíduo. E o que o indivíduo faz com isso? Bem, a maioria trata isso como fardo, como algo desagradável e anseiam por tratar isto que é um direito, como um dever – uma obrigação. Mas fique claro que a culpa disto tudo não é só deles, e direi por quê.
O primeiro dia de aula é certamente um dia marcante na vida de qualquer criança. É neste dia que ela terá suas primeiras impressões, e por isso é primordial que os educadores responsáveis saibam ser bem receptivos. Isso hoje em dia tem sido amplamente trabalhado e discutido no meio pedagógico. Mas há um problema: a preparação da criança ANTES de ingressar na escola. Pais prestem atenção: se permitirem que seus filhos partam para o primeiro dia de aula com uma opinião errada sobre estudar, talvez seja difícil reverter esta situação.
É comum a criança ouvir do irmão mais velho, ou dos primos, ou mesmo de alguns amiguinhos  que “estudar é chato”. Nessas horas, os pais devem intervir. Digo isso porque a maioria apenas dá uma risadinha, dizendo “ah, deixa ele, é coisa de criança, quando for pra escola ele vai gostar”. Aí é que mora o perigo: ele NÃO vai gostar. Crianças são facilmente sugestionáveis, e tendem a se inclinar para a visão mais pessimista. Uma prova disso é o fato de sempre terem medo de bicho papão, mesmo quando os pais insistem em dizer que não existe. Então, sempre que alguém tentar induzir seu filho a ter uma visão negativa sobre os estudos, seja enérgico e, em contrapartida, mostre a ele que a situação é exatamente oposta.
Desde cedo, tente mostrar a seus filhos o quão divertido pode ser o ato de estudar. Ajude-o a fazer seus deveres de casa ao invés de reclamar por estarem sujando seu tapete com o giz de cera. Mostre a eles que você se diverte aprendendo coisas novas, e a tendência é que eles façam o mesmo. Parte do conceito de “chato e legal” é puramente relativo, e baseia-se nas primeiras impressões e naquilo que induzimos as crianças a pensarem.
Este texto na verdade é um pequeno alerta para evitar que seus filhos se tornem, digamos... populares na escola e fracassados na vida. Digo populares no sentido de que para muitos jovens essa é a maior conquista da juventude, e os conhecimentos adquiridos acabam sendo desprezados. Aliás, é justamente sobre isso que falarei em um próximo texto. Por hora, fiquem de olho e não deixem suas crianças tornarem-se sofofóbicas.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Reality Show – Teatro para hipócritas


Reality Show. Para quem não sabe o que é (o que eu acho difícil, já que a TV brasileira tem dado muita ênfase neste tipo de programa ultimamente), de uma olhada neste link e antes de prosseguir: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reality_show

Antes de qualquer coisa, devo ressaltar que alguns formatos de Reality Show são sim interessantes ou no mínimo razoáveis, desde que o objetivo do programa seja a evidenciação de um talento ou a busca pela superação de limites pessoais. Neste texto, falarei sobre aqueles programas em que o objetivo é simplesmente mostrar o comportamento de seus participantes – com algumas “tarefas” eventuais, mas que não são o foco de atuação.
            O comportamento humano é muito complexo, a psicologia já afirma isso com muita propriedade. Então, podemos supor que um ser humano é um objeto de estudo que age seguindo uma quantidade incontável de parâmetros. Embora os atos de falar e gesticular sejam bons meios de expressão, não há nada que possa exibir com real precisão o que se passa na mente de uma pessoa. Os sentimentos são confusos, não se pode determinar com toda a certeza a reação que cada ação provoca. Por que eu estou dizendo isso? Porque o que vou discutir agora é simplesmente a mania que algumas pessoas tem de atuarem como exímios psicanalistas.
            Programas como Big Brother e similares possuem um mecanismo até fácil de entender: os participantes entram no ambiente de confinamento, se conhecem, agem como novos grandes amigos, passam por algumas provas, criam grupos de interesse, atacam-se simultaneamente e, ao fim, alguns deles saem com bonificações interessantes, sendo que um sempre recebe um prêmio maior. Bem, o que mais chama a atenção dos espectadores não é este processo todo, mas sim um parâmetro particular: o comportamento dos participantes dentro do programa. Os espectadores tendem a criar laços de afeição com os participantes que, por senso comum, são desfavorecidos e perseguidos dentro do próprio programa. Analogamente, passam a ter repulsa pelos participantes que se mostram como estrategistas, e que deixam claro desde o início o desejo pelo prêmio maior. Ao que me consta, todo e qualquer tipo de atitude dentro do ambiente de confinamento é permitido, desde que estes não sejam claramente adversos à Constituição Brasileira, como agressões físicas, por exemplo. Resumindo: tudo o que os participantes fazem dentro do programa É PERMITIDO pelas regras do mesmo, pois caso contrário, são expulsos.
            É aí que entram os pseudo - psicanalistas. Criou-se o costume, entre os espectadores do programa, de julgar os participantes por suas atitudes dentro do jogo. Combinar voto é errado, criar “panelinhas” é errado, ser calado é errado, ser sincero é errado, e que tudo isso configura em jogar sujo. Pergunto-me: jogo sujo por quê? Eles estão dentro das regras propostas pelo programa. Um jogador de futebol se sente humilhado ao receber um drible bonito, mas nada pode dizer, pois isto faz parte do jogo, e o mesmo acontece nos reality shows. As pessoas do lado de fora passam e determinar o que é certo e o que é errado, criando suas próprias regras para um jogo cujas regras já foram definidas.
            Alguns desses espectadores argumentam alegando que “é nessas situações que as pessoas mostram o que realmente são”. NÃO!!! Elas, neste momento, são jogadoras e estão jogando conforme as regras. As verdadeiras pessoas que elas representam ficam do lado de fora. Me lembro que, em uma das edições do Big Brother Brasil, o “vilão” da casa era um médico. As pessoas na rua demonstravam ódio por ele sem conhecê-lo, mas na cabecinha pequena delas, o Big Brother revelou tudo o que elas precisavam saber sobre ele. Uma vez uma das participantes passou mal dentro da casa e ele foi o primeiro a socorrer. Assisti posteriormente uma reportagem mostrando sua atuação profissional, como seus pacientes (em geral, pessoas idosas) o adoravam e até atribuíam a ele o sucesso de suas recuperações. E agora, o que me dizem os espectadores que o criticavam? Podem afirmar com tanta certeza que ele era um homem ruim, desprezível e merecedor dos piores chingamentos possíveis? Então me digam: e quanto aos vencedores? O que fizeram de bom? Compraram apartamentos, carros, torraram o prêmio como bem entenderam, tudo isso alicerçado sobre a ignorância e a hipocrisia daqueles que se achavam sabedores da verdade e experts em comportamento humano pois julgaram que este era merecedor do prêmio, que este era o portador das mais belas virtudes. Sim, com raríssimas exceções (lembro-me que uma das ganhadoras chegou a construir uma escola pública com o dinheiro). Mas em geral, são pessoas comuns, com tantas qualidades quanto qualquer outro participante, mas que por encaixarem-se provisoriamente em um perfil dito “perfeito” pelo público, ganharam o status de vencedor.
            O problema não está em assistir esses programas. Pessoas diferentes tem métodos diferentes de diversão, e se sua mente sente prazer com isso, não adianta fugir. O fato que transforma o público destes reality shows em piada é que eles, em sua maioria, transformam-se em “réguas” que insistem em medir a magnitude e a natureza das atitudes e da personalidade de outras pessoas, tendo como base uma amostra insignificante e medíocre de suas vidas – o Reality Show.

sábado, 14 de agosto de 2010

Teletransporte: Ciência ou Ficção?

-->
No meu post anterior, discuti um pouco sobre a forma de se pensar em “tempo”, incluindo um tema particularmente ligado a este, a viagem no tempo. Hoje vou expor um ponto de vista relativo a espaço. Consequentemente, será preciso explorar também alguns conceitos (mesmo que simples) sobre velocidade e aceleração. E como não faz muito sentido falar dessas duas grandezas sem considerar o tempo, portanto, antes de começar, falarei um pouco mais sobre o assunto, uma espécie de complemento ao texto anterior que me será útil na discussão de hoje.
O conceito de “instantâneo” nem sempre é exato. Deve-se perceber que, sem um transcorrer de tempo, por mínimo que este seja, não há ação, ao menos pelo conhecimento básico de ciência que temos. Ou seja, podemos definir que uma coisa instantânea é, na verdade, algo que acontece em um intervalo de tempo tão pequeno que chega a ser quase nulo, embora jamais o seja. Então, para todos os efeitos, sempre que o conceito de “instantâneo” for citado neste texto, entenda como um intervalo de tempo tão pequeno quanto você possa imaginar – mas sempre maior que zero.
A grosso modo, podemos interpretar algumas grandezas físicas da seguinte forma:

Posição refere-se à localização. É o lugar ocupado por um objeto, num dado instante.

Deslocamento é a distância entre a posição de um objeto em um instante e a posição deste mesmo objeto em outro instante, após este movimentar-se. Se o objeto permanece parado, dizemos que o deslocamento é nulo, ou que não houve deslocamento.

Trajetória é o caminho que um corpo faz para deslocar-se.

Velocidade refere-se à variação do movimento, é a “rapidez” com a qual um objeto se desloca de um lugar a outro.

Aceleração refere-se à variação da velocidade, é a forma como a velocidade aumenta ou diminui no decorrer do tempo.

Com base nisto, podemos agora entrar na discussão sobre o transporte instantâneo, conhecido como teletransporte.

O teletransporte sempre foi um assunto amplamente explorado pela ficção científica, tanto de um ponto de vista tecnológico quanto místico. Teletransporte nada mais é do que uma forma de deslocar um objeto de um ponto a outro instantaneamente, mesmo que seja para locais muito distantes. Em outras palavras, o objeto a ser teletransportado desaparece em um lugar e reaparece em outro. Como? Bem, para a ciência real, isto ainda é um mistério longe de ser descoberto (se é que é possível). Embora já tenham conseguido efetuar o que chamamos de Transporte Quântico (no qual há apenas a transferência de informações, e não da matéria em si) o teletransporte que aqui será abordado não segue os mesmos princípios e é incomparavelmente mais complexo.

Primeiro, consideremos uma situação ideal: um corpo rígido, cuja distribuição de massa é homogênea (uma esfera metálica, por exemplo) deve ser transportado do ponto A ao B, de forma instantânea, sendo que A e B são posições relativamente distantes. Vamos desprezar a resistência do ar ou outro fluido que esteja entre A e B, ou qualquer outro fator que implique na atuação de forças externas no sistema. Ou seja, um sistema totalmente conservativo onde não haja nenhum tipo de perda de energia.
Bem, não faz sentido transportar o corpo todo, em alta velocidade, até o ponto B, pois isso seria um transporte veloz, mas não teletransporte. Afinal, isto falharia se houvesse, por exemplo, um muro entre A e B. Então, considerarei basicamente 2 formas de teletransporte:

1 – Separação de moléculas

            Vamos supor que fosse possível separar as moléculas de um corpo e depois reagrupá-las novamente, mesmo que cada uma delas seguisse uma trajetória em particular. Então, um desagrupador em A separaria as moléculas da esfera e estas seriam “atraídas”, de alguma forma, para um reagrupador em B. Mesmo se houvessem obstáculos, cada molécula ou grupo de moléculas  tomaria um caminho conveniente até seu destino, comportando-se de maneira semelhante a um fluido. Com isso, seria fácil conduzir as partículas por arestas ou pequenas aberturas. E, considerando a ausência de resistência, a atuação da força constante de atração por B tornaria o movimento das moléculas acelerado. Como a massa de cada partícula é constante e a força de atuação também, para manter o equilíbrio, a aceleração também deve ser constante.

Complicações:

            Este método exige que o corpo propriamente dito seja transportado, mesmo que fragmentado. Se supusermos que as posições A e B estão cada uma em uma “caixa perfeita” (cujas paredes são perfeitamente vedadas) esse transporte não funcionaria, pois as partículas não encontrariam abertura para continuar o percurso.

2 – Transferência de informações

            Neste caso, não se transporta mais o corpo em si, mas sim as informações referentes a ele. Seria como uma “receita de bolo”, enviada de um ponto a outro. Então, no momento do transporte, as informações seriam enviadas de A para B, o objeto seria destruído instantaneamente em A, e com as informações recebidas em B, seria recriado lá, idêntico ao antigo. Evidentemente, o ambiente de B deveria conter todos os “ingredientes” necessários para a criação do corpo.

Complicações:

            Neste caso, a principal preocupação é que o ambiente B possua realmente todos os elementos necessários para a replicação do objeto. E se de alguma forma a informação fosse perdida no meio do caminho ou houvesse um erro na captação dos dados, o corpo poderia ser recriado totalmente deformado, ou mesmo nem chegaria a ser recriado.

Situações não ideais

Bem, os métodos acima foram discutidos em um ambiente ideal. Energia conservada, objeto homogêneo... mas como a vida não e tão simples, há de se esperar que o teletransporte também não seja.
O primeiro método talvez seja o que mais se prejudique com situações não ideais. Primeiramente, a resistência do ar implicaria na existência de uma velocidade terminal nas moléculas, o que tornaria o transporte mais lento. A grande quantidade de elementos presentes no ar ocasionaria uma infinidade de colisões, perturbando a trajetória das partículas e provocando perda de energia. As moléculas deveriam possuir, cada uma, um “plano de voo”  para efetuar o caminho mais curto de A até B, sem colidir, uma vez que a partícula não possui inteligência e não pode escolher o caminho por si própria. Imaginaram como isso seria difícil? Como prever o comportamento de todos os fatores ambientais (tais como movimento das moléculas de ar, correntes de vento, e diversos outros fatores externos) para traçar assim uma trajetória precisa? Seria preciso vencer o caos, (o que vocês já sabem que é difícil, se já ouviram falar sobre isso. Senão, procurem um texto nesse mesmo blog que fala um pouco sobre o assunto, ou mesmo pesquisem na internet). Além disso, a perda de energia sofrida por cada molécula  resultaria em uma perda significativa de energia do corpo em si, após o fim do transporte, o que teria conseqüências imprevisíveis.
O segundo método não sofreria tanto na situação ideal quanto o primeiro, mas seria necessário que houvesse matéria suficiente para a recriação do objeto no local de destino, como já mencionado, e algum tipo de aparelho que fizesse essa remontagem de forma rápida e inteligente. Cientificamente, este método é muito mais viável do que o primeiro. Prova disso é que o próprio teletransporte quântico é uma aplicação deste método. (obs – transporte quântico é algo complexo e difícil de entender, mas há sites falando sobre o assunto caso a curiosidade seja grande).
O teletransporte na ficção, quase sempre, tende ao absurdo. Mais uma vez, repito: longe de mim querer que os escritores e cineastas levem a ciência à risca (imagine como os filmes e livros seriam chatos se fosse tudo certinho assim!!) Mas tenham sempre em mente que o nome FICÇÃO não é por acaso. Imagine, no caso do filme “Jumper”, ocorre um teletransporte onde o corpo desaparece de um lugar e reaparece no outro lado do mundo, por exemplo, e nesse caso não se considera nenhum dos métodos discutidos acima, mas sim um teletransporte “nu e cru”. Agora, se você pensar que cada partícula do corpo, ao reaparecer em outro lugar, “expulsa” as partículas de ar do local, empurrando-as para fora, com uma força de interação, podemos considerar a seguinte questão: se a força é, de certa forma, proporcional à velocidade, e esta velocidade tende a ser infinita (já que o teletransporte é instantâneo), a própria força não tenderia ao infinito? Seria essa força então grande o suficiente para provocar uma espécie de “esmagamento” nas partículas e no corpo do Jumper? Intrigante, não?
Bem, é isso. Mais um tema para mastigar sua massa cinzenta, com certeza um assunto que ainda vai render muita discussão e teorias nas cabeças dos cientistas do mundo inteiro. Será que um dia o teletransporte será possível, e não nos preocuparemos mais com o trânsito infernal das grandes cidades?




quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Tempo - Muito além dos ponteiros do relógio



A palavra “tempo” é muito ampla. de certa forma, interpretamos como o intervalo entre um acontecimento e outro. Bem, ao menos esta é a forma mais simples de se pensar no assunto, sem recorrer a divagações muito complexas. Para a ciência, o tempo é talvez uma das mais complexas grandezas físicas. Afinal, é algo que não se pode ver ou tocar. É a grandeza que mais se aproxima do conceito abstrato de “sentimento”.
O tempo não é absoluto, depende da compreensão de quem o “sente”. Segundos, minutos, horas... são apenas convenções, uma espécie de intersecção entre a percepção temporal de cada um. Mas é preciso entender que essa percepção é variável. Quem nunca sentiu o tempo passar rápido durante um final de semana, e sentir que a segunda-feira não acaba nunca? Se você analisar bem, verá que o tempo “passa mais rápido” quando se objetiva algo, ou seja, quando se conhece o fim de um evento. Um exemplo claro disso é quando se viaja para um lugar pela primeira vez. Não se sabe ao certo quanto tempo a viagem irá levar, então seu cérebro se prepara para eventuais demoras. Já na volta, a viagem nos parece ser mais rápida – mesmo que dure o mesmo tempo – isso porque ao voltarmos já conhecemos nosso destino, e já temos uma noção do tempo que irá decorrer.
Faça um teste: pegue um cronômetro e marque o tempo que você demora a chegar a um local que costuma ir, como a padaria, a escola... algo que dure em torno de uns 5 minutos (ou mais, se você tiver paciência o suficiente para realizar a segunda etapa). Depois, sente-se calmamente em um lugar, de preferência sua própria casa, e veja o tempo no cronômetro. Agora, tente ficar exatamente o mesmo tempo sem fazer nada além de observar o cursor do cronômetro (ou um relógio de ponteiro, o efeito é ainda melhor). Tente resistir até acabar o tempo, mas provavelmente você já estará muito entediado no meio do caminho. Pense bem: quando se está preocupado em apenas ver o tempo passar, faz sentido contar o tempo? Não seria como tentar medir o tamanho de uma régua?
Bem, depois de já ter pensado muito sobre como compreendemos o tempo, podemos agora entrar em uma discussão mais prática. Muitos já ouviram falar em viagem no tempo. Tema de muitos filmes, seriados, livros... prato cheio para a ficção científica e para o misticismo. Não tentarei discutir sobre a visão científica da coisa, mas é possível entrar em indagações que muitos provavelmente já fizeram a si mesmos.
Vamos supor que alguém tivesse construído uma máquina do tempo, e que pudéssemos nos transportar a qualquer lugar, em qualquer época, sem nos preocupar com as limitações físicas em torno disto. Se você se encontrasse consigo mesmo, no passado, qual seria sua reação? Afinal, é você, e não é ao mesmo tempo. Quem tomaria a iniciativa de cumprimentar o outro primeiro? Bem, vocês pensam igual (ta, as pessoas mudam no decorrer do tempo, mas vamos supor que este não seja seu caso), então, talvez digam as mesmas coisas, ao mesmo tempo. Apenas a situação atual - como humor e posicionamento ambiental - talvez criassem alguma diferença. Agora, vamos imaginar que você viajou para 5 minutos no passado, encontrou seu eu antigo, e deu-lhe um soco no olho. O seu olho ficará roxo? Ou apenas o dele? Você sofrerá imediatamente as conseqüências da alteração que causou em eventos anteriores? Precisará retornar ao seu tempo original para que isso aconteça? Ou não, você não influenciará o SEU futuro, mas apenas o futuro de uma “cópia”?
Para ajudar a entenderem o que estou dizendo, fiz um desenho (não sou artista, mas ainda bem que o Corel Draw possui muitas ferramentas para leigos) e nele exponho 2 formas diferentes de se pensar em viagem no tempo, linha do tempo, etc.



Na primeira forma, consideraríamos o tempo como uma única linha, onde os eventos ao longo da história são preservados, como uma gravação. Então, quando alguém se transportasse a um momento no passado, as perturbações que ela causasse alterariam a configuração dos eventos dali em diante. Esta forma é mais complicada, pois nos induz a diversos dilemas: o viajante sofreria as alterações, e de que forma? Ao sair de seu tempo original, ele criaria um “vazio”, ou apenas seria “copiado” e sua cópia seria enviada para outra época?  Se fosse uma cópia, ao retornar, qual seria eliminado, o que permaneceu ou o que viajou? Ambos permaneceriam, separadamente, e passariam a existir 2 pessoas iguais no mesmo tempo original? Ou eles poderiam formar um só novamente. Mas tudo isso dependeria da relação de tempo decorrido no passado e no futuro, o que falarei daqui a pouco, pois é comum aos dois casos. Um exemplo de viagem no tempo interpretada desta forma é o filme “Efeito Borboleta”, onde a cada intervenção que o protagonista realiza no passado, seu próprio futuro se reconfigura de forma totalmente diferente.
Na segunda forma, um pouco mais fácil de entender talvez, o tempo é dividido em várias linhas de acontecimento, infinitas, onde os eventos não fossem preservados, mas como cada linha é uma cópia da outra, seria possível viajar para uma das linhas correspondentes ao tempo desejado. Seria como passar um arquivo de computador para um amigo: todas as mudanças que você fez no arquivo antes de passá-lo, estarão no arquivo dele, mas o que fizer depois, não. Assim, quando o viajante se transporta para outra linha, toda a alteração causada nela apenas a influenciará e às linhas que forem “cópias” desta. Um exemplo desta interpretação é o que acontece no desenho Dragon Ball Z-2, onde o personagem Trunks viaja ao passado para ajudar os pesonagens a impedirem uma catástrofe futura. Ele consegue causar mudanças naquela linha de tempo, mas seu próprio tempo original não é alterado, e tudo está do mesmo jeito quando ele retorna.
Independente de qual forma seja adotada, uma pergunta fica: Se eu passar 5 minutos no passado, também terão passado 5 minutos em meu tempo original? Afinal, ele não deixa de correr só porque eu saí. Eu poderia voltar ao exato momento de minha partida, mas esse ainda seria o meu tempo original? Ou meu tempo estaria 5 minutos à frente, e o que eu pensei ser um retorno, nada mais seria do que uma nova viagem, porém ao tempo mais familiar para mim?
Algumas outras histórias complicam ainda mais as coisas. Um exemplo é a história do jogo “Final Fantasy 8”, um jogo de RPG lançado inicialmente para Playstation 1 e posteriormente para PC. Recomendo não ler o parágrafo seguinte caso não queira saber coisas sobre os momentos finais do jogo.
No jogo, os personagens lutam com uma feiticeira chamada Edea, que mais tarde descobrem apenas estar possuída por outra feiticeira. Em dado momento, ocorre o que é chamado de Time Compression (Compressão de Tempo). Neste evento, passado, presente e futuro se “amontoam” um sobre o outro, de modo que os componentes das diversas linhas temporais se interceptam. Os personagens são transportados, aleatoriamente, a vários lugares do mundo, em tempos diferentes, onde passam por batalhas. Por fim, estabilizam-se em um futuro distante, onde enfrentam uma batalha final com uma feiticeira (Ultimecia) que causou estrago no mundo todo. Ao vencerem, o protagonista se vê em um passado onde ainda era uma criança, e encontra a mulher que o criou (Edea), que não parece se surpreender com o viajante. A feiticeira Ultimecia, fraca, acaba caindo no mesmo espaço-tempo, e possui o corpo de Edea. Então, a idéia que fica é a de que se estabeleceu um ciclo, onde tudo que se passa no jogo já aconteceu, e tornará a acontecer. Depois, os personagens acabam por conseguirem retornar ao tempo original (embora alguns fãs do jogo apresentem teorias alternativas ao final do jogo, que por sinal recomendo, já que é meu RPG favorito). Mas o fato é que esta forma cíclica de acontecimentos talvez se encaixe melhor  na segunda forma de noção de viagem no tempo, porém de forma extremamente sofisticada, e talvez fosse preciso mais do que um simples sistema de “cópias” temporais.
Fisicamente falando, também poderíamos nos perguntar o que aconteceria se alguém se transportasse a outra linha temporal. Se a energia não pode ser criada, apenas transformada, a presença de um novo ser não pertencente àquele universo traria um acréscimo de energia. Seria isso o suficiente para provocar um colapso?
Também poderíamos pensar de forma religiosa. O seu eu do passado compartilharia da mesma alma? Seria uma alma diferente, interligada a sua? Ou uma alma, além de diferente, sem relação alguma? Se cada linha de tempo tivesse sua própria alma para cada um... teríamos um “Paraíso” para cada linha de tempo, ou seria o mesmo para todos?
Bem gente, é isso aí. Tempo é uma coisa muito complicada de se discutir, e é algo que rende páginas e mais páginas de explanação. O importante é que pensemos em tempo não só como quem olha no relógio, mas também como quem olha no relógio sem se desligar do mundo ao seu redor. Quanto à viagens no tempo, deixo para os cineastas a missão de impressionar as pessoas, pois só o que faço é mostrar a elas que elas não são as únicas que vivem com a cabeça cheia de interrogações.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Legal? Sim... Correto? Nem tanto.




Os filmes de cinema provavelmente são a forma de entretenimento visual mais popular do mundo, e é raro ver alguém que não goste de assistir a um bom filme de vez em quando. Romance, comédia, terror, ação... cada um tem seus gostos particulares. Porém, os cineastas devem estar cada vez mais atentos, pois o público se torna mais exigente a cada dia que passa. Efeitos especiais de 1980 já não impressionam mais ninguém, e os novos filmes tendem a tornar as cenas cada vez mais realistas. Assim, os produtores lançam mão de uma série de manobras cinematográficas, criando cenas de deixar qualquer um com os olhos vidrados na tela. O que muitas vezes esses produtores não percebem, é que ao tentar buscar o realismo das cenas, acabam contradizendo a própria realidade. E isso não acontece apenas em filmes, mas também em seriados, por exemplo. Vejamos então alguns desses exemplos de "realidades irreais" que os criadores de filmes e séries são capazes de criar para atrair o público:


Essa é clássica.

Reparem lá pelos 50 segundos de vídeo. Notem que os tiros e explosões da nave emanam sons. Bem, claro que seria sem graça se não fosse assim. Porém, o som não se propaga no vácuo, ou seja, por mais mirabolantes que sejam as explosões, na realidade não é possível ouvir nenhum barulho. Isso já caiu em vários vestibulares, e é uma questão que pega muita gente desprevenida. Esses efeitos tornam o filme mais interessante, claro, mas é importante atentar para este “detalhe”.


Esse que aparece no vídeo acima é o Hiro, um personagem do seriado “Heroes” (que eu particularmente gosto muito). Infelizmente não encontrei um vídeo mais descente dele para demonstrar o que quero dizer, mas serve.
Hiro é um personagem que tem poderes para curvar o espaço-tempo. Em alguns momentos da saga, ele “pára” o tempo, e tira coisas de um lugar, coloca em outro, etc. Agora, é importante lembrar que, a luz, embora viaje a uma velocidade muito alta, ainda assim precisa de um intervalo mínimo de tempo para percorrer o caminho de um lugar a outro. Então, se o tempo está “parado”, não faz sentido que a luz se desloque. Logo, tudo o que foi mudado de lugar deveria manter sua imagem no lugar original. Por exemplo, quando ele muda as cartas de lugar (0:40) as cartas poderiam até terem se mexido (já que sofreram influência externa, a mão do Hiro. Aliás, é outra coisa a se pensar, mas vamos nos ater a pensar só na luz) mas a imagem delas deveria ter permanecido no mesmo lugar, enquanto o tempo estivesse parado. Quando o tempo voltasse ao normal, a luz voltaria a percorrer o espaço normalmente, e ninguém iria perceber a “imagem antiga”, já que tudo seria muito rápido. O próprio vulto do Hiro deveria permanecer na posição original, durante o “tempo parado”.


Ok. Desculpem-me os fanáticos por Crepúsculo, mas acho que esta talvez tenha sido a mais forçada de todas. Não sei se este fato acontece no livro, mas é uma coisa um tanto curiosa do filme. E antes que alguém diga: sim, eu assisti o filme, realmente falar sobre o que não conhece não é uma atitude bacana, e respeito quem gosta. Mas gostaria de discutir essa cena.
Nesta cena, os vampiros argumentam (implicitamente) que é preciso uma tempestade para que possam jogar Baseball. Logo, percebe-se que o motivo disso é que o barulho causado pelas tacadas é tão forte que poderia ser ouvido a longas distâncias e chamar a atenção dos “humanos”. Então, os trovões serviriam para mascarar esse efeito.
Tudo bem, mas pense: para produzir um som tão intenso quando o de um trovão, seria necessário um impacto muito forte sobre a bola. Aí eu fiquei curioso, pois um impacto desses seria suficiente para estilhaçar a bola, a menos que ela fosse feita de um material especial, que eu não consigo imaginar qual seja, nem mesmo um polímero me vem à cabeça. E como a garota agüenta este barulho tão perto dela? Basta imaginar um trovão ao seu lado. Fora que a onda de choque e o ar deslocado para tal efeito seriam grandes. Mas tudo bem, valeu pela criatividade da situação.


Este é um trailer de Avatar. Gostei muito desse filme, tem uma história bacana e cenas realmente muito bem feitas. Neste caso, não vou falar de um efeito especial, mas do fundo de cena geral do filme. É uma coisa a se discutir, posso estar tremendamente enganado, mas é uma coisa que me fez pensar.
O filme trata da transferência de consciência de um ser vivo para outro corpo. De forma bem sofisticada, pois não há nenhum tipo de transferência de massa encefálica, fluidos, ou coisa do tipo. Bem, eu não duvido da possibilidade de que isso aconteça um dia. Mas, cientificamente falando, isto demandaria uma tecnologia muito avançada. Então, o que me fez parar para pensar é que, embora o filme demonstre forte avanço tecnológico, este avanço não me parece compatível a uma época onde a transferência de consciência seja possível. Armas com munições de cartucho, naves pouco resistentes a impactos físicos... imagino eu que talvez a transferência de consciência se encaixasse melhor em uma realidade tecnológica semelhante à de Star Wars, por exemplo. Claro, isto é só uma reflexão que eu fiz, mas acho que transferir a consciência de um corpo para outro demandaria conhecimento científico e tecnológico além do que é demonstrado no filme.

Bem gente, é isso. Há uma série de outros filmes onde estas “incoerências” poderiam ser apontadas. Os filmes, porém, precisam de uma certa dose de “fantasia” para se tornarem atrativos. Seguir à risca todas as leis da natureza tornaria muitos destes filmes e seriados totalmente monótonos. Imagina só, uma cena de Star Wars, de batalha espacial... sem som? Foge ao real, mas é preciso para tornar a cena mais interessante.
As cenas que discuti aqui não são do tipo “absurdo total”. Preocupar-se com regras nessas situações seria realmente desnecessário. Mas fique atento, pois existem filmes que realmente extrapolam na “irrealidade” sem haver necessidade disso, e que fique claro que o realismo cinematográfico não é tão real assim.

sábado, 19 de junho de 2010

O "coitadismo" e a compaixão inerte


Hoje vou desviar-me um pouco do tipo de assunto que costumeiramente escrevo (falando assim, até parece que já postei zilhões de textos). Vou falar de algo que, sinceramente, me deixa bastante irritado. São aquelas pessoas que reclamam de barriga cheia. Na verdade, o problema não está em reclamar, mas em achar que seus problemas são maiores do que os dos outros. É o que eu chamo de “coitadismo”.

Vejo tantas pessoas à minha volta dizerem que estão sofrendo. “Ai, não tenho dinheiro pra comprar roupa nova”, “ai, meu namorado não liga direito pra mim”, “ai, to no ensino médio e tô sofrendo pra fazer as provas.” “ai como sofro”. Quer saber? Como diria meu pai: “vai capiná horta”! Cara, qual é a finalidade de espalhar aos quatro ventos os seus problemas? Aliás, a palavra “problema” é um exagero em muitos casos, por exemplo, os citados acima. Desculpem-me os aspirantes a hipocondríacos e companhia, mas sempre que vejo alguém desmerecendo a própria sorte, me sinto profundamente incomodado. E o engraçado é que os mais coitadinhos geralmente têm tudo do bom e do melhor, mas não satisfeitos com isso, querem ganhar a “dó” dos outros.

Na boa, quem precisa de “dó” são os músicos (ta, foi um péssimo trocadilho, mas vocês entenderam). Para que provocar nos outros um sentimento desnecessário de compaixão? Compaixão é um sentimento que deve crescer naturalmente dentro das pessoas, não ser estimulado pelo seu alvo. E o pior é que, ao ganhar a “dó” de quem se deseja, as pessoas acabam se acomodando e se aproveitando de seus “escravos sentimentais”. Caramba, o que faz um homem (não um garotinho, um homem) “morrer” de fome... dentro de casa? Mamãe não ta lá? Namoradinha não ta lá? Será que o neném ainda não aprendeu a fazer miojo? Será que o neném não sabe cortar um pão e passar manteiga, será que neném não sabe ir à padaria? Não sabe ou não quer? Não quer mesmo... quer que cuidem dele, quer que digam “Óooooo, tadinho”. Tadinho daqueles garotos que acordam antes do Sol nascer para trabalharem na lavoura, e nem ao menos tem a chance de estudar. Dividem uma abóbora com cinco irmãos e ainda agradecem por isso. Se enxerga rapaz!

Já que estamos falando de compaixão... outra coisa que me deixa frustrado é um efeito que eu só consigo descrever como “eu ajudo ficando com pena”. De que adianta postar dezenas de fotos  em um álbum do Orkut intitulado “O mundo está perdido” ou coisa do tipo, e... NÃO MOVER UM SÓ DEDO SEQUER PARA FAZER ALGUMA COISA? Vai lá, coloca as fotos das criancinhas passando fome na África, no sertão... e continue torrando todo o seu dinheiro em bebidas e baladas, em roupas da moda. Pare para pensar: você alguma vez já ajudou os outros? Não, ajudar seu amigo a ir embora pra casa por estar caindo de bêbado não conta. Quero saber se já participou de alguma campanha de agasalho, se já doou algum alimento, se já fez trabalho voluntário (pena alternativa também não conta). É meu amigo, vai me dizer o quê, que a culpa é do governo, e ele deve resolver tudo? Espere sentado. Aliás, botar a culpa no governo é a desculpa preferida daqueles que não querem levantar o rabo do sofá e fazerem algo de útil. Ou então, aqueles adolescentes revoltadinhos vêm e dizem: “tipo assim, esse mundo é puta injusto meu”, e vão pro Twitter escrever coisas do tipo “salvem as crianças”. Twitter não mata a fome colega, reclamar não aquece ninguém. E ouvir “We are The World” também não vai melhorar o mundo, a menos que você tenha comprado o single original.

É isso. Desculpem por fazer perderem seu tempo lendo isto. Provas e relatórios têm tomado muito meu tempo esses dias (não, não é um problema, agradeço por estar ocupado) então eu não pude desenvolver nenhuma idéia para postagem. Mas como prometi a mim mesmo que tentaria postar ao menos uma vez por semana, não pude falhar, e resolvi escrever sobre esse assunto. É uma espécie de desabafo virtual, talvez. É isso. Ajudem mais o próximo, mas ajudem mesmo... compaixão sem ação não passa de sentimento.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O bom é melhor que o ótimo




Em meu post anterior, falei sobre a Teoria do Caos, onde uma série de fatores influenciam em um evento, de uma forma muito difícil de prever. Hoje, depois
de muito tempo sem postar (muita coisa pra fazer hehe) falarei um pouco sobre alguns conceitos que nos induzem "minimizar o caos", da melhor forma possível. Uma vez que se elimina uma série de fatores inúteis, os eventos possuem menos variáveis relacionadas, de forma que os resultados obtidos podem ser mais simples, porém suficientes. É o princípio da Navalha de Occam.

O nome Navalha de Occam (ou Navalha de Ockham) se deve a seu criador, o frade Franciscano inglês William de Ockham. Ockham também se arriscava a pensar sobre a lógica das coisas. Segundo ele, a explicação para um acontecimento deve conter apenas as informações necessárias para tal, eliminando toda e qualquer informação que não induza à diferenças relevantes. O principio faz alusão à parcimônia (ato ou costume de poupar, simplificar), já discutida por muitos filósofos, entre eles Aristóteles. Pode-se dizer que a idéia de simplificação não é proveniente de Ockham, mas a formulação do princípio costuma ser atribuída a ele por suas considerações lógicas sobre o assunto, tal como suas conclusões sobre inúmeros temas aos quais fez reflexões durante sua vida.

Muitos cientistas contestaram o princípio da navalha, argumentando que se fosse necessário o acréscimo de um ou mais termos para a compreensão de um evento, isto deveria ser feito, sem resguardos. Evidentemente, isso não ia, de fato, contra as idéias de Ockham. Não é questão de eliminar premissas sem um método, mas descartar apenas o que for excessivo, permanecendo o que for estritamente necessário. Tanto foi que a Navalha de Ockham foi adotada pela ciência, aplicada ao Método Científico: considerando, entre todas as hipóteses possíveis para a explicação de um fenômeno, a mais simples, porém suficiente, fica mais fácil desenvolver teoremas e equações.

Bem, esse assunto pode ser bastante complicado (o que é uma tremenda ironia, já que se trata de um princípio parcimonioso). Então, vamos tentar aplicar o princípio da Navalha em nosso cotidiano. Afinal, o objetivo dela é "cortar" tudo o que não é necessário: é como fazer a barba (para quem não gosta de barba, é claro).
Pare para pensar: quantas vezes, em quantas situações, você usa sua "navalha"? Desde ir à padaria pelo caminho mais curto, até deixar para escovar os dentes só depois do café da manhã para poupar tempo (é, tem gente que faz isso). Não importa como, mas somos grandes entusiastas do princípio de Ockham e nem sabemos. Podemos dizer, por exemplo, que os homens aplicam a navalha à linguagem falada, ao contrário das mulheres. Não é machismo, mas é fácil notar que os homens são muito mais sucintos em suas palavras; mulheres fazem mais uso de adjuntos, complementos de fala, etc. mesmo estes não sendo tão necessários. Por outro lado, mulheres sabem resolver problemas menores de forma muito mais fácil que os homens, que se ocupam demais em pensar em resoluções grandiosas para coisas muitas vezes insignificantes.

Apesar disso, devemos ter muito cuidado para não fazer da navalha uma foice. Na ânsia de tornar tudo mais fácil, acabamos por tomar caminhos excessivamente curtos. O ser humano adora tomar atalhos, mas se esquece de que perde toda a informação e aprendizado que poderia ter tido em um caminho, digamos, "original". Colar nas provas, furar a fila do banco, usar drogas para sentir prazer momentâneo, remédios milagrosos que fazem emagrecer 47 quilos em apenas duas semanas... Ockham deve estar se revirando no túmulo com essas "parcimônias" modernas.

Então, usarei mais uma vez nossa fictícia Maria, para ilustrar uma situação onde é possível tornar simples o que seria complexo.

Maria, uma cidadã de bem, muito dedicada... perdeu seu tão almejado emprego, tudo por causa de uma série de acontecimentos que nem ela sabia explicar. E agora? O que fará para resolver seus problemas? Procurar emprego, é claro. Maria imprimiu mais de dez cópias de seu currículo e iniciou uma longa jornada para entregar todas as cópias. Foram dois dias inteiros nessa missão, até ela perceber, tarde demais, que todas as empresas aceitavam envio de currículos pela internet. Foi quando Maria leu sobre a Navalha de Ockham em uma daquelas revistas femininas que falam de tudo: desde pontos de bordado até simpatias para conquistar um novo amor. Ela viu naquilo uma oportunidade de se acertar nas coisas: SIMPLIFICAR. Bem, uma das empresas a chamou, e ela compareceu à entrevista na data e hora combinadas.

A entrevista começava com uma dinâmica: cada candidato deveria falar sobre si mesmo. Maria, em sua vez, pensando no que lera na revista, disse "me chamo Maria". O candidato ao lado falou de toda a sua vida, desde sua infância, como conheceu sua esposa, o dia em que seu filho nasceu... foram longos minutos de discurso. O terceiro candidato, se apresentou, falou de sua formação acadêmica e de suas experiências profissionais. Ora, vocês se espantariam se eu dissesse que apenas este último foi selecionado para a próxima seletiva? O outro candidato encheu a cabeça da examinadora com informações que não fariam a mínima diferença para elas. Maria tentou aplicar o princípio da navalha e cortou mais coisas do que devia, afinal, se quisesse saber apenas o nome, a examinadora teria olhado na ficha dos candidatos. O terceiro foi breve, porém levou ao conhecimento dos presentes todas as informações pertinentes à situação. SIMPLES, porém COMPLETO.


Isto é parcimônia. Não é tornar a vida fácil, é tornar a vida simples. A facilidade vem como consequência.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Caos - Aleatoriedade ou previsibilidade complexa?




(A idéia deste texto surgiu durante uma conversa com uma colega de curso e grande amiga chamada Dalila, a quem tive o imenso prazer de conhecer em 2009. Propusemo-nos um desafio mútuo, no qual deveríamos interligar, em uma
única postagem, 3 palavras avulsas. As palavras a mim designadas por ela foram: "cone","sobremesa" e "café". Achei que talvez fosse uma boa idéia discutir um pouco sobre a Teoria do Caos, o que cai bem para este desafio.)

Escolhas. Nossa vida está repleta de escolhas, e, embora isto possa não ser percebido em um primeiro instante, cada uma delas pode causar uma diferença gigantesca em nosso futuro. O importante é entender que, não se trata de destino (ao menos, esta é minha opinião) mas sim de uma complexa teia de acontecimentos que têm início em um fio inicial, podendo tomar formas totalmente diferentes; dependerá da forma como agimos cada vez que nos deparamos com um "nó" desta teia.

Para quem nunca ouviu falar em Teoria do Caos, darei uma breve explanada sobre o assunto (aos familiarizados com ela, entendam que a abordagem aqui é desprovida de matematização, não se decepcionem, por favor).

A Teoria do Caos fala sobre a forma como os eventos se relacionam, porém considerando a complexidade que os envolve, e a dificuldade em prevê-los. Em outras palavras, o que todos chamam de "destino" é apenas visto pela Teoria do Caos como o resultado da interação de diversos fatores, cujas leis regentes são dificilmente compreendidas. O Efeito Borboleta (tema de uma série de filmes de mesmo nome) é uma consequência dessa teoria, onde se considera que um evento, por mais simples que seja, pode influenciar em grandes proporções os eventos futuros.

Vamos exemplificar:

Temos aqui a cidadã Maria. Maria acabou de conseguir um emprego de atendente em uma loja grande e muito famosa na cidade. Seu ônibus passa no ponto que fica na esquina às sete horas da manhã. Em seu pimeiro dia, Maria teve o imenso desprazer de não acordar ao som do despertador, acabando por levantar-se às seis e meia. Na correria, Maria tomou um café empurrado, arrumou-se apressadamente. Colocou uma camiseta simples, uma blusa de frio, e ao ficar em dúvida entre calçar uma sandália ou um tênis, optou pela segunda opção. Correu até o ponto de ônibus e, mais uma vez, se decepcionou ao ver que seu ônibus acabara de virar na esquina. Se tivesse chegado ali uns cinco segundos antes, ainda daria tempo de acenar para o motorista e parar o ônibus. Então ela amaldiçoou a própria sorte, por ter que esperar mais trinta minutos até o próximo ônibus chegar.

Voltemos então alguns minutos desta cena. Maria optou por calçar um tênis ao invés de sandália. Imaginemos que, entre vestir as meias e calçar o tênis e amarrar os cadarços, ela levou trinta segundos. Uma sandália pode ser bem mais rápida de se calçar do que isto, vamos dizer que sejam quinze segundos. Maria se atrasou cerca de cinco segundos. Uma rápida conta poderá mostrar que ela teria chegado no ponto de ônibus segundos mais cedo, se tivesse optado pela sandália, e não teria perdido o ônibus. Por causa de uma escolha errada, por mais irrelevante que possa parecer, pode ter arriscado o futuro profissional de nossa personagem, pois certamente seu patrão não gostará nada nada do atraso.

Embora isso possa parecer exagero, são fatos "pequenos" como estes que conduzem nossa vida a rumos não imaginados antes. Isso acontece porque é fácil notar eventos grandiosos, mas não os mais ínfimos.

Levemos isto mais a fundo ainda, analisando mais um fato fictício.

Imaginemos que o cidadão José parou para tomar um café em uma lanchonete perto do trabalho, às seis e quinze. Em cinco minutos, terminou de comer suas torradas e seu café com leite, e saiu apressado do recinto, ignorando a oferta de uma sobremesa de pudim de leite do garçom. José sai apressado, precisa chegar ao seu escritório o mais cedo possível, pois é um advogado requisitado e tem muito a fazer. José ouve Bee Gees em seu MP3 player e não presta muita atenção à rua. Repentinamente, percebe um buraco razoavelmente grande no meio da rua, e tenta desviar rapidamente. Tal ato pegou de surpresa o motorista que vinha logo atrás, fazendo-o colidir com o carro de José. Um acidente grave. Segundos depois, representantes do departamento de trânsito, que foram enviados àquela rua para sinalizar, com uso de cones, o imenso buraco, tiveram que mudar de planos e sinalizar o acidente. Foram mais de quarenta minutos de congestionamento. Vários ônibus ficaram parados pela confusão. Se José tivesse aceitado a sobremesa, os cones teriam sido colocados antes de ele passar por lá, e o acidente não teria acontecido.
Lembram-se de Maria? Pois bem, o ônibus das sete e meia não passou na hora certa, pois ficara parado em um congestionamento causado por um grave acidente. O acidente causado por José.

Maria chegou ao seviço mais atrasada do que imaginava, já que o ônibus das sete e meia passou quase as oito. Ela deveria ter chegado no serviço às sete e quinze, seu horário de entrada era as sete e meia mas chegou quarenta e cinco minutos atrasada. Não deu outra: foi demitida. Maria teria levado uma bronca por escolher os tênis, mas como José, do outro lado da cidade, recusou a sobremesa, além de receber a bronca, Maria foi mandada embora em seu primeiro dia de trabalho.

Estranho? Confuso? Imprevisível?
É, você está começando a entender o Caos...

segunda-feira, 5 de abril de 2010


Método para subjugar prova surpresa



Seu professor lhe diz que dará uma prova surpresa na semana que vem. NÃO SE APAVORE!!! Prove para ele que isto é impossível e impeça-o de cometer tamanha insanidade. Metodologicamente, argumente de forma a eliminar um por um os possíveis dias de "prova surpresa", alegando o seguinte:

1 - Esta prova não pode ser aplicada na sexta-feira, pois se, após o decorrer da semana (seg, ter, qua) chegarmos na quinta e esta prova não for aplicada, já não será surpresa nenhuma que a prova será no dia seguinte. Logo, não é possível aplicar uma prova surpresa na sexta.

2 - Esta prova não pode ser marcada na quinta. Se no decorrer da semana esta prova não for aplicada e chegarmos à quarta-feira, partindo do pressuposto de que a prova não pode ser aplicada na sexta (item 1) , saberemos que será então aplicada na quinta. Então não será mais supresa que a prova será aplicada no dia seguinte. Logo, esta prova não pode ser aplicada na quinta.

3 - utilize este mesmo raciocínio sequencial até demonstrar que a prova não pode ser aplicada nem quarta nem terça.

4 - tendo em base que esta prova pode apenas ser marcada nas segundas, anunciar uma prova surpresa para a semana que vem implica em marcar uma prova na segunda-feira. Logo, não é uma prova surpresa mas sim uma prova comum, com data bem definida.

Através deste método de indução finita, é possível provar que prova surpresa não existe em determinadas condições.

OBS - Créditos au Prof. Doutor Luís Fernando, do Departamento de matemática do Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Itajubá. Ele nos apresentou esse esquema para descontrair, durante uma aula de Geometria Analítica.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Teoria dos búfalos e considerações sobre probabilidade

Para quem não sabe, sou estudante do curso de Bacharelado em Física na UNIFEI, o que já é suficiente para provar que não bato muito bem da cabeça. E nesta universidade conheci várias pessoas, com algumas das quais me identifiquei mais. As idéias expressas a seguir surgiram em uma conversa com uma dessas pessoas, um grande pensador de Piranguinho - e agora meu parceiro - chamado Luan (meu veterano).
A Teoria dos búfalos diz o seguinte: imagine uma manada de búfalos fugindo de seu predador. Por uma questão natural, os búfalos mais fracos tendem a ficar para trás: sendo assim, serão as presas mais fáceis e tornar-se-ão comida para seu algoz. Consequentemente, analisando a manada com um todo, ela se torna mais forte já que sobraram apenas os melhores animais. E isso se repete em fugas seguintes, de modo a obter uma manada cada vez mais díficil de ser caçada.
Façamos então uma analogia simples: sabemos que o consumo de bebidas alcólicas pode matar nossos neurônios. Seguindo o princípio da manada, apenas os mais fracos e menos ativos serão destruidos. Logo, nosso conjunto de neurônios se tornará mais potente, pois apenas sobrarão os mais resistentes. Então, o consumo de álcool mata sim nossas células nervosas, mas fortalece nossa mente.
Outra consideração interessante sobre búfalos é o famoso "sai correndo". Por algum motivo, dois ou três animais disparam a correr. Os demais, temendo um perigo iminente, acompanham a fuga, mesmo sem saberem o que de fato acontece. Isso é muito visível nos seres humanos. Quem nunca ouviu na escola algo do tipo: "Vixe, essa matéria tá o cão de difícil. NÓS estamos ferrados"; ou "tá tendo corte na empresa, NÓS vamos ser mandados embora". "NÓS"? Por que nós? O que nos leva a pensar que, se não somos capazes, ninguém mais é? Pior: o que nos leva a pensar que, se os outros não são capazes, nós também não somos? Bem, já vimos que os búfalos podem nos ensinar muitas coisas, basta olhar para eles de maneira mais abrangente. Agora, vamos deixar de lado esta falácia fauno-terapêutica e voltar a falar sobre absurdos plausíveis.

Irei agora fazer uma pequena observação sobre probabilidade e análise combinatória.



Neste mesmo diálogo, foi proposta uma nova visão sobre a chance de um determinado evento acontecer. Quem já estudou probabildade e análise combinatória, mesmo no ensino médio, sabe que existe uma série de expresões matemáticas usadas para calcular se algo irá ou não acontecer. Pois bem, vamos exemplificar.
Um homem está de frente para 10 potes fechados. Em um deles, há um biscoito. Então, qual a probabilidade de ele encontrar o biscoito, tendo apenas uma chance? A matemática nos diria que é uma chance em dez. Mas, se analisarmos a situação de um ponto de vista mais panorâmico, chegaremos a uma conclusão: ou ele encontra o biscoito, ou não encontra. Então, aquela chance de um em dez cai por terra se, ao invés de analisarmos o sistema de um modo pontual, o fizermos de forma geral. No final, teremos uma chance de cinquenta por cento para sim e cinquenta para não. Então, quais são as suas chances de ganhar na loteria? Cinquenta por cento: ou ganha, ou não ganha. Quais são as chances de um meteoro cair na Terra amanhã? Já entendeu que não precisa fazer contas né.
Claro que a sequência de eventos na vida não pode ser prevista tão facilmente, mas esta ótica não é tão absurda assim. De fato, é o resultado que transparece no fim das contas, e uma vez que já aconteceu, as probabilidades que envolviam o evento já não servirão de mais nada, e só restará constatar se aconteceu ou não.
Assim, imagino que as chances de alguém se identificar com esse pensamento seja de cinquenta por cento, o que me traz certo otimismo (otimismo - essa talvez seja a palavra chave dessa teoria mirabolente - ou pessimismo, depende de qual lado sai perdendo) e me leva a crer que a vida se resume num emaranhado de previsões à base do meio-a-meio.