quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A realidade do deficiente físico




Antes de começar, quero deixar claro que este texto não tem fins políticos, até porque creio que teria acontecido a mesma coisa, qualquer que fosse o político envolvido, de qualquer partido.

            Neste domingo, dia 17, tivemos em minha cidade (Pouso Alegre) no sul de Minas, um evento muito bacana – uma corrida rústica para portadores de necessidades especiais. Juntamente com alguns escoteiros de meu grupo, fui escalado à ajudar no evento, distribuindo água, fazendo balizamento de percurso ou o que fosse preciso ajudar. Pois bem, pouco antes do início do evento, ficamos sabendo que o governador do estado estava chegando à cidade, e assistiria à uma missa na Catedral de Pouso Alegre. O detalhe é que este evento para os deficientes físicos estava acontecendo justamente na praça em frente à catedral.

            Enquanto os participantes, parentes, amigos e colaboradores da corrida se organizavam, podíamos notar, atrás do palanque do evento, a movimentação na igreja. Um tapete vermelho foi colocado à porta da igreja (diga-se de passagem, não há nada mais ridículo do que o tal do tapete vermelho) e percebia-se a chegada de várias pessoas com traje de última linha. A alta sociedade da cidade comparecia em peso. Não para assistir à corrida, mas para assistir à missa na qual o governador estaria presente.

            Bem, só Deus sabe a dificuldade que foi para realizar aquele evento. As pessoas passavam por nós e encaravam tudo com olhar de quem nega esmola a um mendigo. Uma secretária de Cultura de uma cidadezinha próxima até veio falar algo com a gente, mas a preocupação dela era com a abertura da rua para que  governador chegasse, já que estava interditado para a corrida. Neste momento, o Mariano, que é um grande entusiasta do atletismo e estava ajudando no evento, sutilmente disse: “Mas o governador não se importará de caminhar um pouco, não é? É por uma boa causa. Sabe quando você aplaude com o coração? Foi exatamente o que fiz.

            Mesmo com as dificuldades, a corrida transcorreu bem, e preparávamos para a entrega de medalhas e troféus. Ao fim da missa, foi que a minha indignação foi maior. O governador saiu pela saída lateral rumo ao carro, até aí tudo bem. Mas ver DEZENAS de pessoas saírem da praça para verem o governador passar, foi a gota d’água. Pessoas que realmente mereciam público estavam ali, recebendo suas medalhas ao som de meia dúzia de pares de mão em ovação. Minha indignação foi tamanha que batia palmas cada vez mais fortes.

            Então, o que quero deixar claro é que minha crítica não é política, pelo contrário. Estou criticando as próprias pessoas, que se preocupam mais em lamber o saco de pessoas que julgam serem mais “importantes”, deixando de lado pessoas que realmente estão precisando de carinho, de atenção. Me deixa em cólera ouvir madames pregando a paz mundial, a igualdade, o apoio aos mais necessitados... enquanto torcem o nariz para estes. Pessoas que dão lição de moral nas colunas sociais (idiotice 2) sem um pingo de moral verdadeira para dar exemplo.

Este é nosso mundo. Cada vez mais, me convenço de que não é a política que estraga nossa vida. A má política é apenas um aspecto da má conduta humana. Tive o prazer de estudar, me formar e tornar-me amigo de um deficiente físico, a quem aprendi a ver com os mesmos olhos que vejo qualquer um. Deficiência física não é inferioridade, pelo contrário – pode mostrar que as pessoas não precisam de tudo para serem felizes, e que a superação não está no corpo e sim no coração. Mas enquanto as pessoas acharem que deficiência é digna de pena... digo que dignas de pena serão elas. Eles merecem sim admiração, mas acima de tudo, RESPEITO. E falta isso em muita gente que se diz “normal”.

Pensem nisso.

3 comentários:

  1. Como as coisas são...
    Agora o tal governador de Minas bem que poderia participar...
    A boa ação dele estava dentro da igreja,claro!
    O pior é ver a imbecilidade das pessoas.
    Se vestem a carater,"ajoelham","ovacionam"por quem?hahaha
    Por que não usou um pouco da "boa ação" tão falada nas igrejas a favor dos deficientes?
    Panaca e puxa saco é apenas uma das "qualidades" do ser humano

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