quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Tempo - Muito além dos ponteiros do relógio



A palavra “tempo” é muito ampla. de certa forma, interpretamos como o intervalo entre um acontecimento e outro. Bem, ao menos esta é a forma mais simples de se pensar no assunto, sem recorrer a divagações muito complexas. Para a ciência, o tempo é talvez uma das mais complexas grandezas físicas. Afinal, é algo que não se pode ver ou tocar. É a grandeza que mais se aproxima do conceito abstrato de “sentimento”.
O tempo não é absoluto, depende da compreensão de quem o “sente”. Segundos, minutos, horas... são apenas convenções, uma espécie de intersecção entre a percepção temporal de cada um. Mas é preciso entender que essa percepção é variável. Quem nunca sentiu o tempo passar rápido durante um final de semana, e sentir que a segunda-feira não acaba nunca? Se você analisar bem, verá que o tempo “passa mais rápido” quando se objetiva algo, ou seja, quando se conhece o fim de um evento. Um exemplo claro disso é quando se viaja para um lugar pela primeira vez. Não se sabe ao certo quanto tempo a viagem irá levar, então seu cérebro se prepara para eventuais demoras. Já na volta, a viagem nos parece ser mais rápida – mesmo que dure o mesmo tempo – isso porque ao voltarmos já conhecemos nosso destino, e já temos uma noção do tempo que irá decorrer.
Faça um teste: pegue um cronômetro e marque o tempo que você demora a chegar a um local que costuma ir, como a padaria, a escola... algo que dure em torno de uns 5 minutos (ou mais, se você tiver paciência o suficiente para realizar a segunda etapa). Depois, sente-se calmamente em um lugar, de preferência sua própria casa, e veja o tempo no cronômetro. Agora, tente ficar exatamente o mesmo tempo sem fazer nada além de observar o cursor do cronômetro (ou um relógio de ponteiro, o efeito é ainda melhor). Tente resistir até acabar o tempo, mas provavelmente você já estará muito entediado no meio do caminho. Pense bem: quando se está preocupado em apenas ver o tempo passar, faz sentido contar o tempo? Não seria como tentar medir o tamanho de uma régua?
Bem, depois de já ter pensado muito sobre como compreendemos o tempo, podemos agora entrar em uma discussão mais prática. Muitos já ouviram falar em viagem no tempo. Tema de muitos filmes, seriados, livros... prato cheio para a ficção científica e para o misticismo. Não tentarei discutir sobre a visão científica da coisa, mas é possível entrar em indagações que muitos provavelmente já fizeram a si mesmos.
Vamos supor que alguém tivesse construído uma máquina do tempo, e que pudéssemos nos transportar a qualquer lugar, em qualquer época, sem nos preocupar com as limitações físicas em torno disto. Se você se encontrasse consigo mesmo, no passado, qual seria sua reação? Afinal, é você, e não é ao mesmo tempo. Quem tomaria a iniciativa de cumprimentar o outro primeiro? Bem, vocês pensam igual (ta, as pessoas mudam no decorrer do tempo, mas vamos supor que este não seja seu caso), então, talvez digam as mesmas coisas, ao mesmo tempo. Apenas a situação atual - como humor e posicionamento ambiental - talvez criassem alguma diferença. Agora, vamos imaginar que você viajou para 5 minutos no passado, encontrou seu eu antigo, e deu-lhe um soco no olho. O seu olho ficará roxo? Ou apenas o dele? Você sofrerá imediatamente as conseqüências da alteração que causou em eventos anteriores? Precisará retornar ao seu tempo original para que isso aconteça? Ou não, você não influenciará o SEU futuro, mas apenas o futuro de uma “cópia”?
Para ajudar a entenderem o que estou dizendo, fiz um desenho (não sou artista, mas ainda bem que o Corel Draw possui muitas ferramentas para leigos) e nele exponho 2 formas diferentes de se pensar em viagem no tempo, linha do tempo, etc.



Na primeira forma, consideraríamos o tempo como uma única linha, onde os eventos ao longo da história são preservados, como uma gravação. Então, quando alguém se transportasse a um momento no passado, as perturbações que ela causasse alterariam a configuração dos eventos dali em diante. Esta forma é mais complicada, pois nos induz a diversos dilemas: o viajante sofreria as alterações, e de que forma? Ao sair de seu tempo original, ele criaria um “vazio”, ou apenas seria “copiado” e sua cópia seria enviada para outra época?  Se fosse uma cópia, ao retornar, qual seria eliminado, o que permaneceu ou o que viajou? Ambos permaneceriam, separadamente, e passariam a existir 2 pessoas iguais no mesmo tempo original? Ou eles poderiam formar um só novamente. Mas tudo isso dependeria da relação de tempo decorrido no passado e no futuro, o que falarei daqui a pouco, pois é comum aos dois casos. Um exemplo de viagem no tempo interpretada desta forma é o filme “Efeito Borboleta”, onde a cada intervenção que o protagonista realiza no passado, seu próprio futuro se reconfigura de forma totalmente diferente.
Na segunda forma, um pouco mais fácil de entender talvez, o tempo é dividido em várias linhas de acontecimento, infinitas, onde os eventos não fossem preservados, mas como cada linha é uma cópia da outra, seria possível viajar para uma das linhas correspondentes ao tempo desejado. Seria como passar um arquivo de computador para um amigo: todas as mudanças que você fez no arquivo antes de passá-lo, estarão no arquivo dele, mas o que fizer depois, não. Assim, quando o viajante se transporta para outra linha, toda a alteração causada nela apenas a influenciará e às linhas que forem “cópias” desta. Um exemplo desta interpretação é o que acontece no desenho Dragon Ball Z-2, onde o personagem Trunks viaja ao passado para ajudar os pesonagens a impedirem uma catástrofe futura. Ele consegue causar mudanças naquela linha de tempo, mas seu próprio tempo original não é alterado, e tudo está do mesmo jeito quando ele retorna.
Independente de qual forma seja adotada, uma pergunta fica: Se eu passar 5 minutos no passado, também terão passado 5 minutos em meu tempo original? Afinal, ele não deixa de correr só porque eu saí. Eu poderia voltar ao exato momento de minha partida, mas esse ainda seria o meu tempo original? Ou meu tempo estaria 5 minutos à frente, e o que eu pensei ser um retorno, nada mais seria do que uma nova viagem, porém ao tempo mais familiar para mim?
Algumas outras histórias complicam ainda mais as coisas. Um exemplo é a história do jogo “Final Fantasy 8”, um jogo de RPG lançado inicialmente para Playstation 1 e posteriormente para PC. Recomendo não ler o parágrafo seguinte caso não queira saber coisas sobre os momentos finais do jogo.
No jogo, os personagens lutam com uma feiticeira chamada Edea, que mais tarde descobrem apenas estar possuída por outra feiticeira. Em dado momento, ocorre o que é chamado de Time Compression (Compressão de Tempo). Neste evento, passado, presente e futuro se “amontoam” um sobre o outro, de modo que os componentes das diversas linhas temporais se interceptam. Os personagens são transportados, aleatoriamente, a vários lugares do mundo, em tempos diferentes, onde passam por batalhas. Por fim, estabilizam-se em um futuro distante, onde enfrentam uma batalha final com uma feiticeira (Ultimecia) que causou estrago no mundo todo. Ao vencerem, o protagonista se vê em um passado onde ainda era uma criança, e encontra a mulher que o criou (Edea), que não parece se surpreender com o viajante. A feiticeira Ultimecia, fraca, acaba caindo no mesmo espaço-tempo, e possui o corpo de Edea. Então, a idéia que fica é a de que se estabeleceu um ciclo, onde tudo que se passa no jogo já aconteceu, e tornará a acontecer. Depois, os personagens acabam por conseguirem retornar ao tempo original (embora alguns fãs do jogo apresentem teorias alternativas ao final do jogo, que por sinal recomendo, já que é meu RPG favorito). Mas o fato é que esta forma cíclica de acontecimentos talvez se encaixe melhor  na segunda forma de noção de viagem no tempo, porém de forma extremamente sofisticada, e talvez fosse preciso mais do que um simples sistema de “cópias” temporais.
Fisicamente falando, também poderíamos nos perguntar o que aconteceria se alguém se transportasse a outra linha temporal. Se a energia não pode ser criada, apenas transformada, a presença de um novo ser não pertencente àquele universo traria um acréscimo de energia. Seria isso o suficiente para provocar um colapso?
Também poderíamos pensar de forma religiosa. O seu eu do passado compartilharia da mesma alma? Seria uma alma diferente, interligada a sua? Ou uma alma, além de diferente, sem relação alguma? Se cada linha de tempo tivesse sua própria alma para cada um... teríamos um “Paraíso” para cada linha de tempo, ou seria o mesmo para todos?
Bem gente, é isso aí. Tempo é uma coisa muito complicada de se discutir, e é algo que rende páginas e mais páginas de explanação. O importante é que pensemos em tempo não só como quem olha no relógio, mas também como quem olha no relógio sem se desligar do mundo ao seu redor. Quanto à viagens no tempo, deixo para os cineastas a missão de impressionar as pessoas, pois só o que faço é mostrar a elas que elas não são as únicas que vivem com a cabeça cheia de interrogações.