sábado, 14 de agosto de 2010

Teletransporte: Ciência ou Ficção?

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No meu post anterior, discuti um pouco sobre a forma de se pensar em “tempo”, incluindo um tema particularmente ligado a este, a viagem no tempo. Hoje vou expor um ponto de vista relativo a espaço. Consequentemente, será preciso explorar também alguns conceitos (mesmo que simples) sobre velocidade e aceleração. E como não faz muito sentido falar dessas duas grandezas sem considerar o tempo, portanto, antes de começar, falarei um pouco mais sobre o assunto, uma espécie de complemento ao texto anterior que me será útil na discussão de hoje.
O conceito de “instantâneo” nem sempre é exato. Deve-se perceber que, sem um transcorrer de tempo, por mínimo que este seja, não há ação, ao menos pelo conhecimento básico de ciência que temos. Ou seja, podemos definir que uma coisa instantânea é, na verdade, algo que acontece em um intervalo de tempo tão pequeno que chega a ser quase nulo, embora jamais o seja. Então, para todos os efeitos, sempre que o conceito de “instantâneo” for citado neste texto, entenda como um intervalo de tempo tão pequeno quanto você possa imaginar – mas sempre maior que zero.
A grosso modo, podemos interpretar algumas grandezas físicas da seguinte forma:

Posição refere-se à localização. É o lugar ocupado por um objeto, num dado instante.

Deslocamento é a distância entre a posição de um objeto em um instante e a posição deste mesmo objeto em outro instante, após este movimentar-se. Se o objeto permanece parado, dizemos que o deslocamento é nulo, ou que não houve deslocamento.

Trajetória é o caminho que um corpo faz para deslocar-se.

Velocidade refere-se à variação do movimento, é a “rapidez” com a qual um objeto se desloca de um lugar a outro.

Aceleração refere-se à variação da velocidade, é a forma como a velocidade aumenta ou diminui no decorrer do tempo.

Com base nisto, podemos agora entrar na discussão sobre o transporte instantâneo, conhecido como teletransporte.

O teletransporte sempre foi um assunto amplamente explorado pela ficção científica, tanto de um ponto de vista tecnológico quanto místico. Teletransporte nada mais é do que uma forma de deslocar um objeto de um ponto a outro instantaneamente, mesmo que seja para locais muito distantes. Em outras palavras, o objeto a ser teletransportado desaparece em um lugar e reaparece em outro. Como? Bem, para a ciência real, isto ainda é um mistério longe de ser descoberto (se é que é possível). Embora já tenham conseguido efetuar o que chamamos de Transporte Quântico (no qual há apenas a transferência de informações, e não da matéria em si) o teletransporte que aqui será abordado não segue os mesmos princípios e é incomparavelmente mais complexo.

Primeiro, consideremos uma situação ideal: um corpo rígido, cuja distribuição de massa é homogênea (uma esfera metálica, por exemplo) deve ser transportado do ponto A ao B, de forma instantânea, sendo que A e B são posições relativamente distantes. Vamos desprezar a resistência do ar ou outro fluido que esteja entre A e B, ou qualquer outro fator que implique na atuação de forças externas no sistema. Ou seja, um sistema totalmente conservativo onde não haja nenhum tipo de perda de energia.
Bem, não faz sentido transportar o corpo todo, em alta velocidade, até o ponto B, pois isso seria um transporte veloz, mas não teletransporte. Afinal, isto falharia se houvesse, por exemplo, um muro entre A e B. Então, considerarei basicamente 2 formas de teletransporte:

1 – Separação de moléculas

            Vamos supor que fosse possível separar as moléculas de um corpo e depois reagrupá-las novamente, mesmo que cada uma delas seguisse uma trajetória em particular. Então, um desagrupador em A separaria as moléculas da esfera e estas seriam “atraídas”, de alguma forma, para um reagrupador em B. Mesmo se houvessem obstáculos, cada molécula ou grupo de moléculas  tomaria um caminho conveniente até seu destino, comportando-se de maneira semelhante a um fluido. Com isso, seria fácil conduzir as partículas por arestas ou pequenas aberturas. E, considerando a ausência de resistência, a atuação da força constante de atração por B tornaria o movimento das moléculas acelerado. Como a massa de cada partícula é constante e a força de atuação também, para manter o equilíbrio, a aceleração também deve ser constante.

Complicações:

            Este método exige que o corpo propriamente dito seja transportado, mesmo que fragmentado. Se supusermos que as posições A e B estão cada uma em uma “caixa perfeita” (cujas paredes são perfeitamente vedadas) esse transporte não funcionaria, pois as partículas não encontrariam abertura para continuar o percurso.

2 – Transferência de informações

            Neste caso, não se transporta mais o corpo em si, mas sim as informações referentes a ele. Seria como uma “receita de bolo”, enviada de um ponto a outro. Então, no momento do transporte, as informações seriam enviadas de A para B, o objeto seria destruído instantaneamente em A, e com as informações recebidas em B, seria recriado lá, idêntico ao antigo. Evidentemente, o ambiente de B deveria conter todos os “ingredientes” necessários para a criação do corpo.

Complicações:

            Neste caso, a principal preocupação é que o ambiente B possua realmente todos os elementos necessários para a replicação do objeto. E se de alguma forma a informação fosse perdida no meio do caminho ou houvesse um erro na captação dos dados, o corpo poderia ser recriado totalmente deformado, ou mesmo nem chegaria a ser recriado.

Situações não ideais

Bem, os métodos acima foram discutidos em um ambiente ideal. Energia conservada, objeto homogêneo... mas como a vida não e tão simples, há de se esperar que o teletransporte também não seja.
O primeiro método talvez seja o que mais se prejudique com situações não ideais. Primeiramente, a resistência do ar implicaria na existência de uma velocidade terminal nas moléculas, o que tornaria o transporte mais lento. A grande quantidade de elementos presentes no ar ocasionaria uma infinidade de colisões, perturbando a trajetória das partículas e provocando perda de energia. As moléculas deveriam possuir, cada uma, um “plano de voo”  para efetuar o caminho mais curto de A até B, sem colidir, uma vez que a partícula não possui inteligência e não pode escolher o caminho por si própria. Imaginaram como isso seria difícil? Como prever o comportamento de todos os fatores ambientais (tais como movimento das moléculas de ar, correntes de vento, e diversos outros fatores externos) para traçar assim uma trajetória precisa? Seria preciso vencer o caos, (o que vocês já sabem que é difícil, se já ouviram falar sobre isso. Senão, procurem um texto nesse mesmo blog que fala um pouco sobre o assunto, ou mesmo pesquisem na internet). Além disso, a perda de energia sofrida por cada molécula  resultaria em uma perda significativa de energia do corpo em si, após o fim do transporte, o que teria conseqüências imprevisíveis.
O segundo método não sofreria tanto na situação ideal quanto o primeiro, mas seria necessário que houvesse matéria suficiente para a recriação do objeto no local de destino, como já mencionado, e algum tipo de aparelho que fizesse essa remontagem de forma rápida e inteligente. Cientificamente, este método é muito mais viável do que o primeiro. Prova disso é que o próprio teletransporte quântico é uma aplicação deste método. (obs – transporte quântico é algo complexo e difícil de entender, mas há sites falando sobre o assunto caso a curiosidade seja grande).
O teletransporte na ficção, quase sempre, tende ao absurdo. Mais uma vez, repito: longe de mim querer que os escritores e cineastas levem a ciência à risca (imagine como os filmes e livros seriam chatos se fosse tudo certinho assim!!) Mas tenham sempre em mente que o nome FICÇÃO não é por acaso. Imagine, no caso do filme “Jumper”, ocorre um teletransporte onde o corpo desaparece de um lugar e reaparece no outro lado do mundo, por exemplo, e nesse caso não se considera nenhum dos métodos discutidos acima, mas sim um teletransporte “nu e cru”. Agora, se você pensar que cada partícula do corpo, ao reaparecer em outro lugar, “expulsa” as partículas de ar do local, empurrando-as para fora, com uma força de interação, podemos considerar a seguinte questão: se a força é, de certa forma, proporcional à velocidade, e esta velocidade tende a ser infinita (já que o teletransporte é instantâneo), a própria força não tenderia ao infinito? Seria essa força então grande o suficiente para provocar uma espécie de “esmagamento” nas partículas e no corpo do Jumper? Intrigante, não?
Bem, é isso. Mais um tema para mastigar sua massa cinzenta, com certeza um assunto que ainda vai render muita discussão e teorias nas cabeças dos cientistas do mundo inteiro. Será que um dia o teletransporte será possível, e não nos preocuparemos mais com o trânsito infernal das grandes cidades?