sábado, 19 de junho de 2010

O "coitadismo" e a compaixão inerte


Hoje vou desviar-me um pouco do tipo de assunto que costumeiramente escrevo (falando assim, até parece que já postei zilhões de textos). Vou falar de algo que, sinceramente, me deixa bastante irritado. São aquelas pessoas que reclamam de barriga cheia. Na verdade, o problema não está em reclamar, mas em achar que seus problemas são maiores do que os dos outros. É o que eu chamo de “coitadismo”.

Vejo tantas pessoas à minha volta dizerem que estão sofrendo. “Ai, não tenho dinheiro pra comprar roupa nova”, “ai, meu namorado não liga direito pra mim”, “ai, to no ensino médio e tô sofrendo pra fazer as provas.” “ai como sofro”. Quer saber? Como diria meu pai: “vai capiná horta”! Cara, qual é a finalidade de espalhar aos quatro ventos os seus problemas? Aliás, a palavra “problema” é um exagero em muitos casos, por exemplo, os citados acima. Desculpem-me os aspirantes a hipocondríacos e companhia, mas sempre que vejo alguém desmerecendo a própria sorte, me sinto profundamente incomodado. E o engraçado é que os mais coitadinhos geralmente têm tudo do bom e do melhor, mas não satisfeitos com isso, querem ganhar a “dó” dos outros.

Na boa, quem precisa de “dó” são os músicos (ta, foi um péssimo trocadilho, mas vocês entenderam). Para que provocar nos outros um sentimento desnecessário de compaixão? Compaixão é um sentimento que deve crescer naturalmente dentro das pessoas, não ser estimulado pelo seu alvo. E o pior é que, ao ganhar a “dó” de quem se deseja, as pessoas acabam se acomodando e se aproveitando de seus “escravos sentimentais”. Caramba, o que faz um homem (não um garotinho, um homem) “morrer” de fome... dentro de casa? Mamãe não ta lá? Namoradinha não ta lá? Será que o neném ainda não aprendeu a fazer miojo? Será que o neném não sabe cortar um pão e passar manteiga, será que neném não sabe ir à padaria? Não sabe ou não quer? Não quer mesmo... quer que cuidem dele, quer que digam “Óooooo, tadinho”. Tadinho daqueles garotos que acordam antes do Sol nascer para trabalharem na lavoura, e nem ao menos tem a chance de estudar. Dividem uma abóbora com cinco irmãos e ainda agradecem por isso. Se enxerga rapaz!

Já que estamos falando de compaixão... outra coisa que me deixa frustrado é um efeito que eu só consigo descrever como “eu ajudo ficando com pena”. De que adianta postar dezenas de fotos  em um álbum do Orkut intitulado “O mundo está perdido” ou coisa do tipo, e... NÃO MOVER UM SÓ DEDO SEQUER PARA FAZER ALGUMA COISA? Vai lá, coloca as fotos das criancinhas passando fome na África, no sertão... e continue torrando todo o seu dinheiro em bebidas e baladas, em roupas da moda. Pare para pensar: você alguma vez já ajudou os outros? Não, ajudar seu amigo a ir embora pra casa por estar caindo de bêbado não conta. Quero saber se já participou de alguma campanha de agasalho, se já doou algum alimento, se já fez trabalho voluntário (pena alternativa também não conta). É meu amigo, vai me dizer o quê, que a culpa é do governo, e ele deve resolver tudo? Espere sentado. Aliás, botar a culpa no governo é a desculpa preferida daqueles que não querem levantar o rabo do sofá e fazerem algo de útil. Ou então, aqueles adolescentes revoltadinhos vêm e dizem: “tipo assim, esse mundo é puta injusto meu”, e vão pro Twitter escrever coisas do tipo “salvem as crianças”. Twitter não mata a fome colega, reclamar não aquece ninguém. E ouvir “We are The World” também não vai melhorar o mundo, a menos que você tenha comprado o single original.

É isso. Desculpem por fazer perderem seu tempo lendo isto. Provas e relatórios têm tomado muito meu tempo esses dias (não, não é um problema, agradeço por estar ocupado) então eu não pude desenvolver nenhuma idéia para postagem. Mas como prometi a mim mesmo que tentaria postar ao menos uma vez por semana, não pude falhar, e resolvi escrever sobre esse assunto. É uma espécie de desabafo virtual, talvez. É isso. Ajudem mais o próximo, mas ajudem mesmo... compaixão sem ação não passa de sentimento.

Um comentário: