quinta-feira, 10 de junho de 2010

O bom é melhor que o ótimo




Em meu post anterior, falei sobre a Teoria do Caos, onde uma série de fatores influenciam em um evento, de uma forma muito difícil de prever. Hoje, depois
de muito tempo sem postar (muita coisa pra fazer hehe) falarei um pouco sobre alguns conceitos que nos induzem "minimizar o caos", da melhor forma possível. Uma vez que se elimina uma série de fatores inúteis, os eventos possuem menos variáveis relacionadas, de forma que os resultados obtidos podem ser mais simples, porém suficientes. É o princípio da Navalha de Occam.

O nome Navalha de Occam (ou Navalha de Ockham) se deve a seu criador, o frade Franciscano inglês William de Ockham. Ockham também se arriscava a pensar sobre a lógica das coisas. Segundo ele, a explicação para um acontecimento deve conter apenas as informações necessárias para tal, eliminando toda e qualquer informação que não induza à diferenças relevantes. O principio faz alusão à parcimônia (ato ou costume de poupar, simplificar), já discutida por muitos filósofos, entre eles Aristóteles. Pode-se dizer que a idéia de simplificação não é proveniente de Ockham, mas a formulação do princípio costuma ser atribuída a ele por suas considerações lógicas sobre o assunto, tal como suas conclusões sobre inúmeros temas aos quais fez reflexões durante sua vida.

Muitos cientistas contestaram o princípio da navalha, argumentando que se fosse necessário o acréscimo de um ou mais termos para a compreensão de um evento, isto deveria ser feito, sem resguardos. Evidentemente, isso não ia, de fato, contra as idéias de Ockham. Não é questão de eliminar premissas sem um método, mas descartar apenas o que for excessivo, permanecendo o que for estritamente necessário. Tanto foi que a Navalha de Ockham foi adotada pela ciência, aplicada ao Método Científico: considerando, entre todas as hipóteses possíveis para a explicação de um fenômeno, a mais simples, porém suficiente, fica mais fácil desenvolver teoremas e equações.

Bem, esse assunto pode ser bastante complicado (o que é uma tremenda ironia, já que se trata de um princípio parcimonioso). Então, vamos tentar aplicar o princípio da Navalha em nosso cotidiano. Afinal, o objetivo dela é "cortar" tudo o que não é necessário: é como fazer a barba (para quem não gosta de barba, é claro).
Pare para pensar: quantas vezes, em quantas situações, você usa sua "navalha"? Desde ir à padaria pelo caminho mais curto, até deixar para escovar os dentes só depois do café da manhã para poupar tempo (é, tem gente que faz isso). Não importa como, mas somos grandes entusiastas do princípio de Ockham e nem sabemos. Podemos dizer, por exemplo, que os homens aplicam a navalha à linguagem falada, ao contrário das mulheres. Não é machismo, mas é fácil notar que os homens são muito mais sucintos em suas palavras; mulheres fazem mais uso de adjuntos, complementos de fala, etc. mesmo estes não sendo tão necessários. Por outro lado, mulheres sabem resolver problemas menores de forma muito mais fácil que os homens, que se ocupam demais em pensar em resoluções grandiosas para coisas muitas vezes insignificantes.

Apesar disso, devemos ter muito cuidado para não fazer da navalha uma foice. Na ânsia de tornar tudo mais fácil, acabamos por tomar caminhos excessivamente curtos. O ser humano adora tomar atalhos, mas se esquece de que perde toda a informação e aprendizado que poderia ter tido em um caminho, digamos, "original". Colar nas provas, furar a fila do banco, usar drogas para sentir prazer momentâneo, remédios milagrosos que fazem emagrecer 47 quilos em apenas duas semanas... Ockham deve estar se revirando no túmulo com essas "parcimônias" modernas.

Então, usarei mais uma vez nossa fictícia Maria, para ilustrar uma situação onde é possível tornar simples o que seria complexo.

Maria, uma cidadã de bem, muito dedicada... perdeu seu tão almejado emprego, tudo por causa de uma série de acontecimentos que nem ela sabia explicar. E agora? O que fará para resolver seus problemas? Procurar emprego, é claro. Maria imprimiu mais de dez cópias de seu currículo e iniciou uma longa jornada para entregar todas as cópias. Foram dois dias inteiros nessa missão, até ela perceber, tarde demais, que todas as empresas aceitavam envio de currículos pela internet. Foi quando Maria leu sobre a Navalha de Ockham em uma daquelas revistas femininas que falam de tudo: desde pontos de bordado até simpatias para conquistar um novo amor. Ela viu naquilo uma oportunidade de se acertar nas coisas: SIMPLIFICAR. Bem, uma das empresas a chamou, e ela compareceu à entrevista na data e hora combinadas.

A entrevista começava com uma dinâmica: cada candidato deveria falar sobre si mesmo. Maria, em sua vez, pensando no que lera na revista, disse "me chamo Maria". O candidato ao lado falou de toda a sua vida, desde sua infância, como conheceu sua esposa, o dia em que seu filho nasceu... foram longos minutos de discurso. O terceiro candidato, se apresentou, falou de sua formação acadêmica e de suas experiências profissionais. Ora, vocês se espantariam se eu dissesse que apenas este último foi selecionado para a próxima seletiva? O outro candidato encheu a cabeça da examinadora com informações que não fariam a mínima diferença para elas. Maria tentou aplicar o princípio da navalha e cortou mais coisas do que devia, afinal, se quisesse saber apenas o nome, a examinadora teria olhado na ficha dos candidatos. O terceiro foi breve, porém levou ao conhecimento dos presentes todas as informações pertinentes à situação. SIMPLES, porém COMPLETO.


Isto é parcimônia. Não é tornar a vida fácil, é tornar a vida simples. A facilidade vem como consequência.

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